Uma Festa de Unidade Sem Precedentes
Data: 18.4.2022Por Dr. Jürgen Bühler, Presidente da ICEJ
Traduzido por Ester Hansen
Três vezes por ano, o Senhor ordenava que Seu povo subisse para Jerusalém para as três principais festas de peregrinação de Pesach, Shavuot e Succot. A Bíblia se refere a estas como as “Festas do Senhor”, querendo dizer que são feriados divinamente instruídos, os quais Deus esperava que Seu povo guardasse. De acordo com as Escrituras, cada uma era um mo’ed, ou “tempo determinado”. De certa forma, essas festas podem ser subentendidas como marcações em um calendário celestial quando Deus decide se encontrar com Seu povo de uma maneira especial. Mas, dentre esses três festivais, a Festa dos Tabernáculos (ou Succot) era considerada a maior.
Ao longo dos séculos, os cristãos têm celebrado as duas primeiras festas durante a Páscoa e o Pentecostes. Mas a terceira festa, do Succot, não foi celebrada durante a maior parte da história da Igreja, e a Igreja Católica até mesmo a declarou “herética” em determinado ponto. Foi somente nas décadas mais recentes que o Succot vem se tornando cada vez mais parte do calendário de feriados cristãos – em grande parte devido à Festa dos Tabernáculos patrocinada há mais de 40 anos pela Embaixada Internacional Cristã Jerusalém.
A Mensagem das Festas
Assim como as outras festas de peregrinação, há dois conceitos principais que sustentam a Festa dos Tabernáculos. Primeiramente, todas as três festas estão vinculadas a períodos especiais do calendário agrícola de Israel. A Pesach celebra a festa dos “primeiros frutos” (Levítico 23.10), o Pentecostes marca as colheitas do trigo e da cevada e o Succot celebra não apenas a última estação de colheita das uvas, romãs e azeitonas – a colheita mais preciosa – mas também se regozija na fidelidade e na provisão de Deus ao longo do ano todo.
Em segundo lugar, cada festa comemora um período específico na história de Israel. A Pesach relembra a libertação da escravidão no Egito. No Shavout, Israel reconta como Deus desceu com fogo no Monte Sinai e entregou os Dez Mandamentos. E, durante o Succot, o povo de Israel recorda os 40 anos vagando pelo deserto, vivendo em barracas frágeis e ainda por cima experimentando a provisão sobrenatural de Deus.
As três festas têm seu cumprimento na pessoa de Jesus Cristo. A Páscoa honra Jesus como nosso Cordeiro Pascal imaculado, que se levantou do túmulo como o “primeiro fruto” dos mortos (1 Coríntios 15.20). Então, no Pentecostes, o Espírito de Deus veio como fogo sobre os discípulos de Jesus e escreveu Suas leis nos corações deles – uma colheita inicial de 3000 almas que entraram no reino de Deus, assim como inúmeras mais têm feito desde então.
Por último, o Succot celebra a última colheita e a mais preciosa do ano e, sem dúvida, estamos experimentando hoje a maior colheita de almas na história da Igreja. Em todas as nações, o Evangelho do Reino está sendo pregado e grandes esforços estão sendo realizados para alcançar as últimas tribos e línguas com as Boas Novas de Jesus Cristo.
Um cumprimento ainda maior, entretanto, está centrado ao redor da principal característica do Succot – o Tabernáculo.
As Cabanas
O principal símbolo do Succot para a maioria das pessoas é a construção de uma barraca ou tabernáculo (succah, em hebraico) como foi ordenado por Deus: “Sete dias habitareis em tendas de ramos; todos os naturais de Israel habitarão em tendas”. (Levítico 23.42)
Todo ano, é sempre fascinante ver as famílias judias por todo o Israel construírem succahs em seus alpendres ou jardins. Durante uma semana inteira, Deus ordena que Seu povo viva nesses frágeis tabernáculos – para reviver a experiência o deserto. Essas pequenas cabanas têm paredes frágeis e um telhado mal coberto por galhos. Os rabinos dizem que você precisa ser capaz de ver as estrelas à noite, pelo teto. Nessa tenda improvisada, toda a família deve fazer suas refeições, estudar e até mesmo dormir.
Recapturar a experiência do deserto serve para lembrar a todos nós que ainda vivemos em um mundo frágil e que, apesar da nossa prosperidade, ainda somos dependentes de Deus para nos sustentar. Paulo se refere a esta verdade duradoura de que vivemos em barracas terrenas:
“Sabemos que, se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos da parte de Deus um edifício, casa não feita por mãos, eterna, nos céus. E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial…” (2 Coríntios 5.1-2).
Esses últimos dois anos de pandemia global e, agora, a guerra brutal na Ucrânia, levaram todos nós a nos lembrarmos do quão frágil a vida pode ser. Até mesmo os cristãos estão abalados por esses eventos e muitas vezes se perguntam onde está Deus? Mas Paulo diz que, à medida que experimentamos nossa fragilidade e nos sentimos “em tudo, atribulados… e perplexos,” não devemos nos desesperar (2 Coríntios 4.8); essa é a vida comum de um crente em Cristo e não deve nos abater, mas, em vez disso, nos trazer para mais perto Dele.
Apenas quando Cristo retornar receberemos nossa redenção completa em um novo corpo ressurreto, mas até lá, ainda estamos gemendo (2 Coríntios 5.2), esperando, como Abraão, pela cidade da qual Deus é o arquiteto e edificador (Hebreus 11.10).
As Quatro Espécies
A palavra de Deus combina um mandamento para construir uma succah com outro encargo divino: “No primeiro dia, tomareis para vós outros frutos de árvores formosas, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas e salgueiros de ribeiras; e, por sete dias, vos alegrareis perante o Senhor, vosso Deus”. (Levítico 23.40)
Israel deveria tomar essas quatro espécies de árvores comuns na região do Mediterrâneo. Os ramos da palmeira, do salgueiro e da árvore frondosa juntos formam o que chamamos de lulav. Eles acrescentam a isso o fruto de uma “árvore magnífica” (etz hadar, em hebraico). Desde a época dos Macabeus, isso tem assumido o significado de uma fruta cítrica chamada etrog. Quando os judeus compram uma etrog, sempre a examinam com cuidado, procurando qualquer possível defeito, e uma etrog perfeita pode ser vendida a um preço elevado. Essas quatro espécies são usadas hoje em dia nas orações diárias durante o Succot e são agitadas nas direções dos quatro cantos da terra, reconhecendo o reinado de Deus sobre todo o mundo.
De acordo com os rabinos, as quatro espécies representam as várias características do povo de Israel, assim como a plenitude da experiência no deserto. As palmeiras são as peregrinações pelos vales e planícies, as árvores frondosas são os arbustos nos relevos montanhosos, os salgueiros representam os ribeiros de água proporcionados por Deus, e as árvores formosas são a esperança pelos frutos da Terra Prometida. Portanto, essas espécies representam todo o povo com todas as suas características e experiências diferentes.
De acordo com a tradição dos saduceus, datada da época do Segundo Templo, esses ramos também eram usados para construir a succah. O livro de Neemias se refere a essas espécies naquele contexto:
“Ele tinha dito que se devia fazer uma proclamação por todas as suas cidades e em Jerusalém, para que o povo fosse até os montes apanhar ramos de oliveiras cultivadas e oliveiras silvestres, ramos de murtas, de palmeiras e de outras árvores frondosas. Deviam usar esses ramos para construir as cabanas, conforme prescrito pela Lei” (Neemias 8.15, NVT)
Para Neemias, as espécies eram os materiais de construção para as barracas. Mas, a diferença principal na lista das espécies é a menção que ele fez às oliveiras em vez da “etz hadar”. A Enciclopédia Judaica explica que árvores cítricas como a etrog vieram originalmente da Índia e foram introduzidas em Israel somente no retorno do exílio babilônico. Será que se entendia que a “árvore formosa” nos tempos antigos era a oliveira? Não sabemos ao certo, mas passagens como Zacarias 4 falam sobre o esplendor do “óleo dourado” fluindo de duas oliveiras. E Neemias convocou o povo para trazer ramos de azeitonas cultivadas e silvestres a fim de “para construir as cabanas, conforme prescrito pela Lei.”
Oliveiras Bravas e Nobres
Também é fascinante notar que esta passagem de Neemias é o único outro versículo em toda a Bíblia, além de Romanos 11, onde encontramos as oliveiras brava e a natural (ou cultivada) mencionadas junto. A Bíblia na Versão Padrão em Inglês (ESV) traduz como a oliveira “silvestre e a nobre”, em conformidade com alguns dos principais comentários. Para Paulo, em Romanos 11, esses dois ramos representavam a casa de Deus, a qual consiste tanto de judeus (o ramo natural ou nobre da oliveira) quanto de gentios (ramos de oliveira silvestre ou brava). Paulo viu os ramos silvestres sendo enxertados na árvore nobre e as duas unidas pela fé em um Messias judeu, Yeshua. Ambos são participantes da seiva nutritiva que flui dentro da árvore nobre (“etz hadar”) de Israel. Em Romanos 9.1-5, Paulo explica que isso inclui “a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne.” Paulo, portanto, instrui a Igreja gentílica a ser grata em relação aos judeus e abençoá-los em retribuição aos nossos dons materiais (Romanos 15.27).
Já nos tempos de Neemias, quando Deus restaurou Jerusalém e o Templo, esses dois ramos – a oliveira brava e a nobre – parecem lançar uma sombra profética sobre os nossos dias. Assim como nos dias de Neemias, vemos Jerusalém restaurada e o templo global de Deus sendo construído com “pedras vivas”, cristãos de toda tribo e nação, sendo edificados juntos como uma casa espiritual (1 Pedro 2.5). Paulo viu essa realidade de judeus e gentios juntos em um corpo, como “mistério” oculto de eras passadas, mas agora reveladas através dos santos apóstolos e profetas (Efésios 3.5-10). Esse “novo homem” (Efésios 2.15), unido pelo sangue redentor de Jesus Cristo, é edificado em “lugar de habitação de Deus no Espírito.” (Efésios 2.22)
O profeta Zacarias viu em uma visão, duas oliveiras estendendo seus ramos e seu óleo para um candelabro de ouro. “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito” o Senhor declarou ao profeta. E então Zacarias viu como Deus estava colocando a pedra angular, a pedra de remate, sobre o Templo com gritos de “Haja graça e graça para ela!” (Zacarias 4.1-7) No tempo de Salomão, o Templo foi completado durante a Festa dos Tabernáculos (1 Reis 8.1).
Assim, não é de se surpreender que Zacarias também vê os gentios vindo a Jerusalém para unir-se a Israel na celebração da Festa dos Tabernáculos (Zacarias 14.16).
Creio que há um grande propósito profético em porque Deus está restaurando a Festa dos Tabernáculos para a Igreja. Estamos vivendo uma época em que Deus está colocando a pedra de remate em Seu Templo. Deus está preparando a Sua Noiva tanto com ramos de oliveira natural quanto brava, e isso será realizado por um renovado derramamento do Espírito Santo e grandes dispensações da graça sobre o Seu povo.
‘Hoshana raba’
Há mais uma lição que podemos aprender com essas quatro espécies. No Templo em Jerusalém, os sacerdotes circulavam o altar todos os dias, agitando as espécies nas mãos, orando e proclamando a partir dos Salmos: “Oh! Salva-nos, Senhor, nós te pedimos; oh! Senhor, concede-nos prosperidade!” (Salmo 118.25)
No último dia do Succot, o Hoshana Raba (hoshana significa “por favor, salve-nos”), os sacerdotes circulavam o altar não apenas uma vez, mas sete vezes. A oração era uma oração por bênção, por chuva e pela provisão abundante de Deus. A reencenação da batalha de Jericó era uma súplica por uma vitória em suas vidas pessoais, famílias e nação.
Ao longo dos últimos quarenta anos, temos testemunhado exatamente isso! Temos ouvido testemunhos e mais testemunhos oferecidos durante nossa Festa dos Tabernáculos, de orações respondidas por vitórias pessoais e bênçãos excepcionais. Peregrinos na festa foram chamados para o ministério, tiveram vitórias financeiras e foram curados de enfermidades. Reavivamentos em igrejas foram acesos em vários países, parlamentares foram convocados para o serviço público, mulheres estéreis foram capazes de ter filhos – esses são apenas alguns dos testemunhos que ouvimos de pessoas participando da Festa.
Um dos salmos de peregrinação cantado no Succot proclama: “Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!” (Salmo 133.1). Isso, o salmista acrescenta, libera a unção de Deus e “Ali, ordena o Senhor a sua bênção e a vida para sempre.”
Tantas vezes temos visto que, quando o único Corpo do Messias se junta e suplica, “Senhor, nos salve”, Deus responde de maneiras surpreendentes e confirma que o Succot realmente é um mo’ed, um tempo determinado para encontrar-se com o Rei dos Reis, quando nada é impossível com Ele!
Em muitas maneiras, a Festa dos Tabernáculos se tornou uma succah mundial para judeus e gentios, e a unidade especial que temos em Yeshua se torna um catalisador para Deus enviar uma vitória. Oro para que vocês possam unir-se a nós neste ano e experimentar o derramar da Festa para si mesmos!