Por Yudit Setz
Traduzido por Julia La Ferrera

No início de novembro, os israelenses voltaram às urnas. Para os nossos novos residentes do Lar Haifa vindos da Ucrânia, foi um dia especial e até festivo. Juntos, fomos ao posto de votação em uma escola próxima. Havia entusiasmo no ar, pois pela primeira vez eles poderiam votar em Israel.

“Estou tão feliz hoje por ter participado das eleições e por realmente fazer parte da minha nova pátria agora. Pude escolher quem eu queria e isso me fez sentir israelense”, disse Lena, sorrindo.

Lena veio da Carcóvia para Israel há vários meses, um dos 17 idosos sobreviventes do Holocausto resgatados da guerra na Ucrânia no ano passado, que agora vivem em nosso Lar especial de Haifa para sobreviventes do Holocausto.

Foi um dia emocionante também para Svetlana, de 89 anos. Com o novo andador que ela recebeu no dia anterior, fomos até a cabine de votação e ela também orgulhosamente deu seu primeiro voto em Israel.

Viúva de 89 anos, Svetlana deixou Kramatorsk em março. Esta é a segunda grande guerra em sua vida, pois ela tinha oito anos quando o Holocausto começou. Dessa época, ela se lembra de bombardeios e aeronaves barulhentas. Sua mãe cavou uma vala no quintal e a cobriu com gravetos e terra. Quando ouviam os aviões, corriam e se escondiam na trincheira.

Na primavera passada, ela ouviu novamente aquele som familiar de sua infância. Ela estava de pé na mesa da cozinha cortando legumes, quando de repente ouviu aviões rugindo acima, seguidos por fortes explosões. Desta vez, os aviões não eram alemães, mas russos.

Svetlana compartilhou outras memórias do Holocausto conosco. Quando os nazistas chegaram, começaram os tiroteios em massa. Eles reuniram um grande grupo de pessoas e ordenaram que entrassem na caixa d’água da cidade. O lugar estava absolutamente lotado. Então um soldado jogou uma bomba. Muitas pessoas perderam a vida, mas como o local estava tão cheio, quem entrou primeiro sobreviveu. Svetlana e sua família estavam entre os sobreviventes. Depois que os soldados alemães partiram, eles escalaram a torre. Ela ainda se lembra de passar por cima de montes de cadáveres.

Mais de 80 anos se passaram. Depois que a Rússia atacou a Ucrânia na primavera passada, Svetlana fugiu de Kramatorsk e chegou a Budapeste. Há alguns meses, ela chegou a Israel e agora mora no Lar Haifa.

O único filho de Svetlana, que morava em Mariupol com sua família, logo fugiu para a Bélgica. Seu único irmão faleceu de Covid há um ano. Em Israel, nos tornamos a nova família de Svetlana, já que nossa equipe ICEJ de diferentes países agora cuida dela.

“Não consigo entender o que está acontecendo hoje em dia. Parece que está tudo de cabeça para baixo”, comentou recentemente. “Quando eu era criança, meu pai e meu tio lutaram junto com os russos contra a Alemanha de Hitler, mas hoje aviões russos bombardeiam minha cidade natal e pessoas da Alemanha me servem e me ajudam.”

Vindo de ‘lá de baixo’
Onze anos atrás, Ruth, esposa de nosso diretor nacional da ICEJ Nova Zelândia, Derek McDowell, faleceu. Em memória de Ruth, dinheiro foi doado para embelezar o Lar Haifa e uma placa foi colocada em nossa rua em sua homenagem. A placa expressava lindamente a vida de Ruth e se tornou um testemunho positivo para muitos israelenses que passaram por ali. A placa diz: “Como uma verdadeira amiga de Israel, Ruth viveu a essência de sua homônima na Bíblia. ‘Seu povo será o meu povo e seu Deus será o meu Deus.’ (Rute 1:16)” Isso também expressa como nos sentimos.

Em dezembro, o filho mais velho de Ruth e Derek, Aaron, veio com sua esposa da Nova Zelândia para o que se tornou uma visita muito comovente ao memorial de Ruth.

“Muito obrigado pela maravilhosa visita de hoje”, Aaron disse depois. “Foi muito especial ver o memorial da mamãe e fiquei muito feliz em receber muito mais da visita. É incrível o que o Lar fez e ainda está fazendo. Que grande contribuição.”

Uma visita inesperada
Alexander e Karolin, ambos cristãos da Alemanha, visitaram recentemente o Lar Haifa como parte de uma viagem ao redor do mundo em suas bicicletas para arrecadar fundos para um projeto de caridade que ajuda jovens carentes. Aqui eles conheceram Zelda, que nasceu na Polônia, mas teve que fugir para a Rússia durante o Holocausto. Embora Zelda tenha passado por muitas dificuldades e agora esteja muito idosa, ela ainda está de bom humor e adora conversar com as pessoas. Ela até parece extrair energia contando aos outros sobre sua vida.

Já há cinco meses na estrada, Alexander e Karolin disseram que esta foi uma das paradas mais emocionantes de sua jornada.

“Foi uma honra conhecer todos os moradores deste maravilhoso Lar”, disse Alexandre. “Serviu como um lembrete para nós continuarmos contando suas histórias. A próxima geração não terá a chance de conhecer pessoalmente essas pessoas preciosas.”

Equipe da ICEJ em ação
Graças à nossa grande equipe de voluntários cristãos, a ICEJ pode fazer muito pelos residentes do Lar Haifa. Por favor, apoie o Lar Haifa para sobreviventes do Holocausto, doando em:  give.icej.org/survivors