
Quando Pão e Manteiga são uma memória preciosa
Data: 3.3.2025Por Maxine Carlill
Traduzido por Julia La Ferrera
Desde o início da guerra em 7 de outubro de 2023, sessenta e oito sobreviventes do Holocausto fizeram Aliá para Israel. Quarenta e quatro deles vieram da antiga União Soviética.
A idade média dos 123.715 sobreviventes do Holocausto que vivem em Israel é de 88 anos, enquanto 257 sobreviventes têm mais de 100 anos.
Para muitos sobreviventes, o período sombrio da Segunda Guerra Mundial é revivido novamente como memórias de dor e medo, que tendem a ressurgir devido à guerra atual. Alguns desses sobreviventes são visitados regularmente pela equipe da ICEJ Homecare, e ao longo dos anos, amizades preciosas foram construídas com esses queridos judeus idosos.
Luba é uma delas. Deixe-nos levá-lo em uma visita recente a esta pequena senhora de 98 anos, elegantemente vestida, a quem ajudamos sempre que precisava.
Caminhamos por um bairro judeu ortodoxo bastante pobre até seu pequeno apartamento de um cômodo em um prédio alto e de aparência desgastada. Quando tocamos a campainha, demorou para ela abrir a porta, devido à sua perda auditiva. Mas ela abriu a porta com um sorriso feliz e uma recepção calorosa.

Para Luba, a vida se tornou mais desafiadora quando seu único filho e sua esposa faleceram alguns anos atrás, logo após o outro. Embora ela tenha contato próximo com netos e uma sobrinha, eles vivem no exterior e às vezes ela diz com tristeza: “Eu frequentemente me sinto tão sozinha, especialmente nas longas noites. Gostaria que você pudesse vir com mais frequência.”
Em sua cozinha pequena, mas aconchegante, as xícaras de chá estavam prontas para serem enchidas. Frequentemente, ela prepara “blinciki”, uma especialidade da Europa Oriental. É uma massa enrolada recheada com queijo e servida com creme de leite. Mas quando perguntamos a ela qual é sua comida favorita, ela disse com entusiasmo: “pão com manteiga”.
Esse alimento tão comum traz de volta suas memórias de escapar da ameaça da Alemanha nazista de trem junto com sua família – uma viagem de trem que essa jovem de 15 anos suportou por meses. Em cada parada, sua mãe e outros passageiros saíam do trem para procurar comida. Todos os itens valiosos que eles levavam com eles eram gradualmente trocados por comida. Sua mãe conseguia comprar pão e manteiga, e foi com esse alimento básico que eles sobreviveram à longa e assustadora jornada.
Enquanto contava sua história de fuga, Luba pegou uma faca e cuidadosamente mostrou a lasca de manteiga que lhe era permitida em seu pedaço de pão. Era quase nada. Ela revelou que, embora estivesse fugindo porque era judia, ela mal sabia o que isso significava. Foi somente no trem que ela conheceu judeus ortodoxos pela primeira vez.
Depois da guerra, ela encontrou seu caminho na vida, se casou, teve um filho e trabalhou duro na Bielorrússia comunista antes de fazer Aliá com seu filho para Israel.
Quando Luba compartilhou sua história sobre o pão com manteiga que se tornou sua comida favorita por toda a vida, ela veio de um lugar escondido dentro de seu coração. Daquele tempo escuro, é a principal coisa de que ela se lembra. Aquilo que lhe deu alegria, pão com manteiga, ficou com Luba por toda a vida.
Luba valoriza a vida e, mesmo tendo passado pela perda e pelo horror da Segunda Guerra Mundial, ela ainda se apega ao bem, o que lhe dá esperança. Há aquele lugar escondido em seu coração para uma doce lembrança em meio a circunstâncias difíceis.
Nós nos sentimos privilegiados por fazer parte da vida de Luba. Depois que o chá terminou e todas as outras coisas foram ditas e feitas, nos despedimos dela e voltamos para o sol da primavera. Ficamos surpresos com a beleza da natureza quando vimos uma amendoeira florescendo do lado de fora do prédio dela. Esta foi uma bela lembrança das estações da vida. A amendoeira é a primeira árvore a florescer e anunciar que o inverno logo acabará para permitir que uma nova vida comece. Assim como acontece com a história de Luba, das cinzas do Holocausto surgiram vida e uma nova esperança.
Ao passar um tempo entre esses sobreviventes incríveis, sabemos que, embora o governo esteja fazendo o melhor que pode, muitos estão tendo dificuldades para sobreviver.
Obrigada por apoiar o programa Homecare da ICEJ. O cuidado e o conforto fornecidos a esses imigrantes judeus idosos significam muito para eles. Você pode doar hoje em: help.icej.org/homecare