O Lar Haifa recebe sobreviventes fugindo da Ucrânia
Data: 15.6.2022Por Yudit Setz
Traduzido por Julia La Ferrera
A ICEJ construiu um novos apartamentos para residentes em nosso Lar Haifa para sobreviventes do Holocausto, mas estamos esperando há muito tempo pela instalação de um elevador antes que o prédio possa abrir. No entanto, quem teria pensado que esse atraso significaria que o prédio agora pode ser preenchido com sobreviventes do Holocausto fugindo da guerra na Ucrânia?
Uma mudança muito inesperada
O trabalho no elevador finalmente começou, e em breve este prédio estará cheio de moradores que não são apenas sobreviventes do Holocausto, mas também novos imigrantes de um país devastado pela guerra. Na velhice, esses sobreviventes ucranianos tiveram que deixar para trás tudo o que construíram na vida e começar de novo apenas com suas memórias e uma pequena mala de roupas.
Por enquanto, as primeiras seis chegadas da Ucrânia estão sendo alojadas em outros apartamentos do Lar Haifa, enquanto um sétimo novo residente acaba de chegar.
Sheila, agora com 85 anos, era uma menina quando sobreviveu ao cerco alemão de Leningrado em 1941. Após a guerra, ela foi parar em Carcóvia, na Ucrânia, onde conheceu seu marido. Embora tenham falado muitas vezes sobre imigrar para Israel, ele queria ficar, então isso nunca aconteceu. Ele faleceu em 2010 e sua única filha morreu dois anos depois, aos 32 anos, deixando Sheila sozinha. Quando as tropas russas começaram a bombardear sua cidade neste inverno, ela tinha certeza de que seria seu fim.
Por um verdadeiro milagre, seu único parente próximo entrou em contato com nossa organização parceira para obter ajuda para resgatar Sheila do constante bombardeio da Carcóvia. Dentro de dois dias, ela teve que fazer uma pequena mala e se despedir de tudo o que conhecia.
Sheila veio direto para o Lar Haifa e dois dias depois acendeu uma chama memorial em nossa cerimônia do Dia da Memória do Holocausto.
“O mais difícil aqui é que eu não posso falar com as pessoas”, disse Sheila em lágrimas, lembrando que ainda não sabe hebraico. Na idade dela, recomeçar é extremamente difícil.
Uma reunião familiar emocionante
Lena também se viu recentemente presa no cerco russo na Carcóvia. Ela nasceu durante a Segunda Guerra Mundial no Cazaquistão, para onde sua família fugiu da invasão alemã da Ucrânia. Após a guerra, eles voltaram para Carcóvia, onde Lena conheceu o marido. Lena tornou-se enfermeira e eles tiveram dois meninos. Mas o casal decidiu usar um sobrenome russo para que seus filhos não sofressem com o antissemitismo desenfreado na Ucrânia naquela época.
Há um ano e meio, seu marido morreu de câncer porque não podia receber nenhum tratamento devido aos lockdowns da COVID. Apesar de terem preenchido um requerimento para imigrar para Israel na década de 1990, eles não vieram. E Lena nunca sonhou que colocaria os pés em Israel este ano!
Mas o bombardeio constante na Carcóvia tornou-se insuportável. Então seu primo Arnold ligou da Varsóvia, onde estava esperando com sua esposa para voar para Israel. Lena decidiu deixar tudo para trás também e se juntar a eles em Israel.
Em 10 de maio, ela chegou direto do aeroporto para o Lar Haifa. O comovente reencontro desses primos aconteceu em nosso refeitório.
“Sinto falta da minha família”, disse Lena, com os olhos cheios de lágrimas. “Ligo para eles todos os dias, mas simplesmente não conseguia mais morar lá.”
Seus filhos ainda estão na Carcóvia, pois não foram autorizados a deixar o país, enquanto suas duas noras fugiram para o Canadá e a Alemanha. Assim, Lena é muito grata pelo lar amoroso que encontrou aqui.
“Obrigada, obrigada”, ela continua dizendo. “Quero muito aprender hebraico agora, para poder falar com todo mundo. Aprendi um pouco de hebraico em nosso livro de orações.”
Seu primo Arnold voou para Israel com sua esposa, Alla, em seu aniversário, em 2 de maio, e eles chegaram ao Lar Haifa no dia seguinte. Com a maioria de seus parentes enterrados na Carcóvia e tendo vivido lá a maior parte de suas vidas, eles nunca pensaram em partir; isto é, até que, recentemente, um foguete caiu em sua casa e quebrou todas as janelas. Pouco depois disso, outro pousou em seu pátio.
As explosões afetaram Alla, pois ela não conseguia mais lidar com o medo. Naquela noite eles decidiram partir e na manhã seguinte foram recebidos pela equipe de resgate patrocinada pela ICEJ. O casal conseguiu embalar quatro de suas fotos de casamento e algumas roupas, e então eles trancaram a porta atrás deles.
Com todos os seus problemas físicos, não tem sido fácil para Alla. “É tão difícil para mim ver minha esposa sofrendo por tanto tempo e é difícil esperar por todas as consultas médicas”, explicou Arnold.
Eles estão muito felizes que sua única filha e seu marido também vieram para Israel e estão morando nas proximidades. O neto deles não pôde deixar a Ucrânia, mas sua esposa, juntamente com o bisneto de Arnold e Alla, também moram perto.
Outra fuga da guerra
Viktor e sua esposa Sonia decidiram evacuar de Kiev depois que os russos começaram a bombardear a cidade e um foguete explodiu ao lado de sua casa. Na época, não havia supermercados ou farmácias abertos e Viktor ficou perturbado, pois sua esposa sofre de uma doença crônica e precisa de medicamentos.
Ele e Sonia estão juntos desde os tempos de escola. Ambos sobreviveram à Segunda Guerra Mundial. Quando o exército alemão bombardeou Kiev em 1941, a pequena Sonia foi removida da cidade por seus pais. Mas o caminho para a segurança era perigoso, pois os trens eram atacados por ar, enquanto estavam cheios de pessoas. Sonia teve sorte de sobreviver e depois voltou para Kiev.
No entanto, quem poderia imaginar que, no final de suas vidas, Sonia e seu marido teriam que fugir de outro ataque a Kiev e enfrentar outra perigosa jornada para a segurança? O fato de que a Rússia ajudou a derrotar os nazistas, mas agora é inimiga da Ucrânia, é difícil para eles entenderem.
Depois de chegar a Israel, Viktor e Sonia passaram um mês em um hotel apoiado pelo governo. Então eles precisavam de um lugar próprio e encontraram o caminho para o Lar Haifa.
“Nós queríamos vir para Israel há muito tempo, mas pelas circunstâncias da vida não deu certo”, comentou Viktor, um engenheiro nuclear de sucesso nos dias soviéticos.
Perguntado se eles estão aliviados por agora estarem morando no Lar Haifa, Viktor respondeu sem hesitar: “Estamos muito felizes por estar aqui. Não tínhamos mais ninguém para nos ajudar em Kiev, e aqui temos uma comunidade ao nosso redor, e a ajuda médica é muito melhor em Israel”.
Para os novos imigrantes em geral, a vida em um novo país é difícil, pois leva muito tempo para se adaptar a um idioma, clima e cultura diferentes. Mas para os idosos deixar tudo para trás em meio a uma guerra feroz e recomeçar em uma nova terra é algo difícil de descrever. Depois de suprir suas necessidades básicas como roupas, alimentação e um lugar para morar, sua maior necessidade é de cuidado e atenção; para que se sintam seguros e em casa.
A Embaixada Cristã tem o privilégio de não apenas cuidar de suas necessidades físicas, mas com nossa equipe da ICEJ em Haifa, damos a eles todo o amor e apoio emocional que podemos, sabendo que eles precisam desesperadamente.
Ainda há um longo caminho a percorrer para que esses sobreviventes ucranianos tenham a sensação de estarem estabelecidos e em casa. Mas com sua ajuda, esperamos que seus últimos anos sejam realmente bons aqui na Terra de seus antepassados.
Por favor, apoie o trabalho do Lar Haifa da ICEJ para sobreviventes do Holocausto.