Judeus franceses respondem ao chamado de Israel para voltar para casa
Data: 6.12.2024Por Howard Flower, Diretor de Aliá da ICEJ
Traduzido por Julia La Ferrera
“Nenhuma lógica pode explicar por que um país em guerra atrai tantas pessoas.”
Essa avaliação intrigante veio de Emmanuel Sion, o oficial encarregado da imigração da França para a Agência Judaica (JAFI). Embora os conflitos normalmente afastem as pessoas, ele explicou recentemente, Israel está atraindo judeus franceses em números crescentes, apesar de mais de um ano de guerra em várias frentes. Esse fenômeno também revela muito sobre os perigos que os judeus enfrentam hoje na França.
As estatísticas são impressionantes. Mais de 2.000 judeus franceses imigraram para Israel nos primeiros dez meses de 2024 – um aumento de 95% em relação a 2023. A Embaixada Cristã Internacional patrocinou voos de Aliá para 300 desses recém-chegados judeus franceses durante esse período, além de outros 200 que chegarão aqui até o final do ano.
O atual aumento de Aliá na França, que continua sendo a maior comunidade judaica da Europa, com cerca de 450.000 membros, ocorre em meio ao crescente antissemitismo no país, especialmente em suas principais cidades.
Em uma recente feira de Aliá em Paris, mais de 2.000 potenciais emigrantes fizeram fila para discutir suas perspectivas de mudança para Israel. Suas perguntas se concentraram em questões práticas: empregos, escolas para as crianças e aulas de hebraico.
“Eu nunca pensei que deixaria a França”, diz Shana, uma estudante de direito judia de 23 anos em Paris. Ela tinha programado sua partida para Israel para novembro e estava tomando precauções até então – usando um pseudônimo em aplicativos de compartilhamento de caronas e enviando mensagens de segurança de hora em hora para seus pais. No entanto, ela descreveu sua decisão como uma escolha positiva em vez de uma fuga.
O êxodo atual difere marcadamente de ondas anteriores, como a partida apressada de 7.835 judeus franceses após o ataque ao supermercado Hyper Cacher em Paris em 2015. Os imigrantes judeus de hoje falam mais sobre construir um futuro em Israel do que fugir da França. Essa distinção importa. Mesmo que as autoridades francesas relatem um aumento de 300% em incidentes antissemitas no início de 2024 em comparação com o mesmo período do ano passado, o movimento para Israel parece motivado mais pela atração do que pelo medo.
Isso apresenta um contraste gritante com as tendências globais. Enquanto a imigração mundial para Israel caiu desde janeiro, os números franceses continuam a subir. Emanuel Sion, da JAFI, atribui isso a uma mudança de pensamento entre os judeus franceses, que cada vez mais veem a cidadania israelense como seu direito de nascença, em vez de seu último recurso.
As implicações para a França se estendem bem para o futuro. Cada onda de êxodo judaico inclui empresários, profissionais e líderes comunitários, criando lacunas na sociedade francesa.
Para Israel, esses recém-chegados apresentam oportunidades e dificuldades. Os imigrantes franceses geralmente têm meios e habilidades profissionais. Mas eles também exigem suporte específico, particularmente com processos burocráticos e aulas de idiomas. O governo israelense modificou seus programas de integração de acordo, embora os gargalos persistam.
Estimativas conservadoras sugerem que 4.000 a 5.000 judeus deixarão a França em 2025. Embora consideráveis, esses números ainda ficariam abaixo do pico de 2015. O fluxo mais estável permite um melhor planejamento tanto pelas famílias judias imigrantes quanto pelas autoridades israelenses acolhedoras.
Na feira Aliá em Paris, os interessados em se mudar falaram em participar da sociedade israelense em vez de escapar do antissemitismo francês.
“Não estamos fugindo de algo”, observou um participante. “Estamos respondendo a um chamado que sempre esteve lá.”
Esse sentimento marca uma mudança crítica na perspectiva dos membros da comunidade judaica francesa. Embora as preocupações com a segurança persistam e as autoridades francesas tenham fortalecido a proteção dos locais judaicos, a motivação primária parece ser uma atração positiva em direção a Israel.
Essa tendência levanta questões sobre a identidade judaica e pertencimento em estados-nação modernos. A república secular da França há muito se orgulha de igualdade e integração, mesmo enquanto a lei de retorno de Israel oferece aos judeus em qualquer lugar do mundo um direito automático à cidadania. Os judeus franceses cada vez mais veem essas opções como complementares em vez de contraditórias.
Para Israel, a chegada constante de judeus franceses traz novos desafios. O sucesso não depende apenas de absorver os recém-chegados, mas de atender às suas expectativas. Como os judeus franceses veem cada vez mais a cidadania israelense como um direito e não como um refúgio, ajudá-los a encontrar contentamento com a vida no estado judeu será crucial.
A mudança de atitudes sugere uma mudança mais profunda na identidade judaica francesa. O que começou como um êxodo motivado pela segurança tornou-se uma escolha considerada para muitos para assumir seu lugar de direito em Israel, mantendo conexões com a França.
Perfil de um imigrante judeu francês
Rafael tinha 30 anos quando decidiu deixar Paris, sua cidade natal, e fazer Aliá para Israel em julho passado. Paris lhe ofereceu muito – uma carreira gratificante como professor de negócios e empreendedorismo, sua própria empresa de marketing digital próspera e um estilo de vida cosmopolita. Mas, por anos, um anseio silencioso por Israel fervilhava dentro dele.
Sua conexão com Israel não era nova. Rafael serviu como madrich (guia) para os passeios Taglit-Birthright, trazendo jovens judeus de todo o mundo para explorar a história e a cultura do país. Em 2017, ele passou um ano em Tel Aviv por meio do programa Masa, mergulhando no ritmo da vida israelense. No entanto, apesar de todas essas experiências, ele nunca abraçou totalmente a ideia de fazer de Israel seu lar – até agora.
Tudo mudou em 7 de outubro. Os eventos daquele dia tocaram uma corda profunda dentro de Rafael, despertando o seu coração sionista. Ele percebeu, talvez pela primeira vez, o quão fortemente ele se identificava com a Terra e o povo, como se uma voz interior declarasse: ‘Seu lugar é em Israel!’
Ao mesmo tempo, a piora da onda de antissemitismo em Paris tornou sua decisão ainda mais clara. Morando no térreo de seu prédio, ele começou a receber mensagens ameaçadoras rabiscadas em suas janelas: “Liberte Gaza” e outros slogans odiosos. As ruas que ele antes andava sem pensar duas vezes se tornaram hostis. Nas redes sociais, Rafael se manteve firme em seu apoio a Israel, tornando-se um ativista dos protestos “Traga-os para Casa” (Bring Them Home) defendendo os reféns israelenses em Gaza.
Quando chegou a Israel, Rafael sentiu uma sensação inesperada de segurança, apesar da guerra em andamento aqui. Ele aprendeu a navegar pela vida no Kibutz Ma’agan Michael, no norte de Israel, onde abrigos têm sido uma necessidade absoluta, já que sirenes de foguetes soaram quase diariamente nos últimos meses.
A estadia de Rafael lá é temporária, enquanto ele tem aulas de hebraico organizadas pela Agência Judaica. Em vários meses, ele planeja se reconectar com velhos amigos de seus dias de Masa, juntando-se a eles em Haifa. Rafael não tem família em Israel, mas está determinado a fazer dali seu lar permanente.
Sua jornada não foi sem desafios, mas Rafael os vê como parte de um propósito maior. Ele frequentemente reflete sobre os paradoxos de sua nova vida: como deixar uma vida estável em Paris para uma de imprevisibilidade em Israel lhe trouxe paz. Por tudo isso, Rafael sentiu que finalmente estava onde deveria estar — um lugar que ele pode orgulhosamente chamar de lar.
A ICEJ tem ajudado centenas de judeus franceses como Rafael a fazer Aliá para Israel este ano, e esperamos trazer ainda mais em 2025. Por favor, apoie nossos esforços de Aliá doando para: help.icej.org/aliá
Foto Principal: JAFI