Hamas gunmen (JPost-Reuters)
Por David Parsons, Vice-Presidente & Porta-Voz Sênior da ICEJ
Traduzido por Julia La Ferrera

O selvagem pogrom do Hamas contra civis israelenses inocentes, em 7 de Outubro, não só tocou o cerne do Holocausto, como também expôs a disputa palestina com Israel como sendo um conflito não sobre fronteiras ou criação de um Estado, mas uma guerra religiosa a ser travada até à morte. O Hamas chegou mesmo a chamar o seu ataque em massa de “Tempestade Al Aqsa”, sublinhando a reivindicação rival exclusiva do Islã sobre o Monte do Templo em Jerusalém e até mesmo sobre toda a Terra de Israel.

Então, qual é a origem desta guerra religiosa?

O falecido Rabino Chefe do Reino Unido, Lord Jonathan Sacks, escreveu um livro que investigou a questão: Qual é a raiz da violência religiosa? Ele observou que muitos filósofos pós-Reforma (Locke, Milton, Spinoza) concluíram que a Bíblia era um texto perigoso que alimentou a Guerra dos Cem Anos, e que a solução era separar a Igreja do Estado. No entanto, Sacks alertou que o texto em si não é perigoso; é a forma como o interpretamos e aplicamos que pode tornar-se perigoso. Ele também observou, no entanto, que a Bíblia aponta a rivalidade entre irmãos como a raiz de muita violência no mundo.

Irmãos Amargos
De fato, o Livro de Gênesis contém especialmente toda uma série de rivalidades entre irmãos que causam muita tensão e até derramamento de sangue. A primeira guerra religiosa foi entre Caim e Abel, porque um deles ficou com ciúmes porque seu irmão havia oferecido um sacrifício melhor a Deus. Depois temos as rivalidades entre Isaque e Ismael, Jacó e Esaú, e José e seus irmãos. As irmãs também entram em cena com Raquel e Lea, e as mães também com Sara e Hagar.

Hagar e Ismael (arthive.net)

Com cada conjunto de rivais familiares, observamos Deus transmitindo o direito de primogenitura e a bênção de Abraão através da Sua própria eleição divina, e concordamos com isso. Isaque era o “filho da promessa”. Jacó valorizava o direito de primogenitura. Judá deveria prevalecer sobre seus irmãos.

No entanto, o texto bíblico também tem uma contra-narrativa que – quando lida com atenção – faz com que tenhamos grande simpatia pelos rejeitados. Somos intencionalmente levados pelo escritor a sentir pena de Hagar e Ismael terem morrido de sede no deserto. Sentimos profunda empatia pelo choroso Esaú e por seu pai Isaque, que “treme” ao perceber que deu a bênção do primogênito a Jacó.

Jacó and Esaú (1919) por Adolf Hulf (Wikipedia)

Mesmo assim, tanto Ismael quanto Esaú ainda receberam suas próprias grandes bênçãos. E todas essas relações rompidas entre irmãos foram eventualmente reparadas. Isaque e Ismael se reuniram para enterrar seu pai Abraão. Jacó e Esaú se abraçaram em lágrimas. José se reuniu com seus irmãos. Portanto, o próprio texto nos aponta para a harmonia familiar, pois todos terminam em reconciliação… exceto um: o neto de Esaú, Amaleque (Gênesis 36:12).

Guerra Contínua com Amaleque
Aparentemente, Amaleque desenvolveu um ciúme ardente pela linhagem escolhida de Jacó, que corre como um fio na Bíblia Hebraica. Vemos isso pela primeira vez em Êxodo 17:8-16, quando Amaleque veio de muito longe e “lutou com Israel em Refidim”. Vemos como Josué lutou contra os amalequitas enquanto Moisés estava em uma colina com a vara de Deus na mão, e Arão e Hur segurando seus braços. Lá, Deus prometeu que “o Senhor travará guerra contra Amaleque de geração em geração”.

Em Deuteronômio 25:17-19, recebemos mais detalhes do porquê o Senhor estava tão irado com Amaleque, porque “te atacou na retaguarda todos os desfalecidos que iam após ti, quando estavas abatido e afadigado; e não temeu a Deus.”. E novamente, a ordem vem para “apagarás a memória de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças.”

Em 1 Samuel 15, o profeta Samuel informa a Saul que o reinado lhe será tirado, porque ele não foi obediente ao matar Agague, um rei amalequita.

Então, em 1 Samuel 30, Davi fica perturbado quando seu acampamento em Ziclague é saqueado pelos amalequitas, que sequestram suas esposas e levam consigo muitos despojos. Depois de se fortalecer no Senhor, Davi é instruído a “perseguir e alcançar” os invasores e a “resgatar” os reféns.

Finalmente, no Livro de Ester, vemos esta antiga rivalidade mais uma vez quando Mordecai, um benjamita como Saul, enfrenta Hamã, o Agagita – ou seja, um descendente do rei amalequita, Agague. Mas a bela rainha Ester jejuou e convenceu o rei a ajudar a salvar o seu povo. Mesmo assim, o povo judeu ainda teve que lutar pela sobrevivência, e em meio à batalha ela pede mais um dia para terminar o trabalho.

Um espírito de inveja sem fim
Assim, podemos concluir que o Espírito de Amaleque é um espírito de inveja e hostilidade eterna para com Israel, nascido de um descendente de Esaú que nunca foi capaz de aceitar que seu avô perdeu o direito de primogenitura e a bênção da família para Jacó. Este espírito ciumento recusa-se a reconhecer a eleição única e duradoura de Deus sobre Israel com o propósito de redenção mundial, a sua bênção distinta e a sua herança única da Terra de Israel.

Este mesmo Espírito de Amaleque ligou-se a muitos povos e nações ao longo do tempo – por exemplo, aos Persas, Gregos e Romanos. Eventualmente, ligou-se ao Cristianismo sob a forma de teologia da Substituição ou Supersessionismo – o ensino errôneo de que a Igreja substituiu Israel como eleita de Deus e única herdeira das Suas bênçãos e promessas. Esta amarga raiz de inveja levou à longa e trágica história do violento antissemitismo cristão contra os judeus – as expulsões e inquisições, os pogroms e as conversões forçadas, até ao Holocausto. Tal como os amalequitas, muitos cristãos esforçaram-se por perseguir e matar os judeus – pensando que estavam a fazer a obra do Senhor.

O Islã também foi infectado pelo Espírito de Amaleque desde o seu início. Originou-se no século VII principalmente como um rival do Cristianismo, que naquela época era a fé escolhida por cerca de metade dos habitantes da Península Arábica. Os estudiosos dizem que Maomé também teve tutores judeus, mas depois se voltou contra os judeus. Assim, o Alcorão contém estranhamente versos “sionistas” que encorajam os judeus a “entrar na terra” que lhes foi dada por Deus, mas mais tarde inclui passagens que insistem que os judeus vieram de “macacos e porcos”.

Mais notavelmente, Maomé insistiu que Alá queria que o direito de primogenitura de Abraão passasse para Ismael, mas os judeus falsificaram o texto bíblico, dando-o a Isaque. Os muçulmanos até observam o Eid al-Adha (“Festa do Sacrifício”) para marcar quando Abraão ofereceu Ismael, e não Isaque, como sacrifício no Monte Moriá. O Islã ensina ainda que Maomé recebeu o Alcorão do céu para corrigir as mentiras inseridas no Antigo Testamento pelos judeus e no Novo Testamento pelos cristãos.

Por fim, o Islã afirma que os árabes, como descendentes naturais de Ismael e Esaú, são realmente o povo escolhido e, portanto, o Alcorão só pode ser lido em árabe. Todos os muçulmanos, mesmo de outras nações e etnias, aprendem ainda que seguem uma revelação superior de Alá no Alcorão, em comparação com cristãos e judeus, o que significa que são um povo superior aos de outras religiões.

Em outras palavras, podemos ver claramente o invejoso Espírito de Amaleque a trabalhar na religião do Islã desde os seus primórdios, recusando-se a reconhecer a eleição de Israel e reivindicando-a, em vez disso, para árabes e muçulmanos. E quando se trata do “fim dos tempos”, o Islã recorre fortemente a passagens bíblicas proféticas sobre uma batalha dos últimos dias sobre Jerusalém, mas distorce-as para pressagiar a conquista da Cidade Santa pelo Islã e depois do mundo inteiro.

Isto leva-nos de volta ao Hamas e ao seu cruel frenesim de violência e morte em 7 de Outubro. A Carta do Hamas insiste que o seu conflito com Israel é uma guerra religiosa, não apenas uma disputa territorial, e centra-se primeiro na retomada de Jerusalém aos judeus. A Carta acusa o povo judeu de tentar controlar o mundo, o que é o destino legítimo apenas dos muçulmanos – portanto, eles são um rival implacável. A Carta também cita o hadith (tradição) do Alcorão de que haverá guerra perpétua entre muçulmanos e judeus até o Dia do Juízo, quando uma tribo de muçulmanos (palestinos) derrotar uma tribo de judeus (Israel).

“O Movimento de Resistência Islâmica aspira fazer cumprir a promessa de Alá, não importa quanto tempo leve. Como o profeta [Maomé]… disse: “O tempo [Dia do Julgamento] não chegará até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem e até que o judeu se esconda atrás das rochas e das árvores, e [então] as rochas e as árvores dirão: ‘ Ó muçulmano, ó servo de Alá, há um judeu escondido [atrás de mim], venha e mate-o…” [Hadith das coleções de Al-Bukhari e Muslim].

Assim, a própria Carta do Hamas condena o povo palestiniano a uma guerra perpétua com Israel, gostem ou não. Agora lembre-se que o próprio Deus jurou que: “O Senhor travará guerra contra Amaleque de geração em geração”. (Êxodo 17:16)

Parece que desde o início, Deus sabia que uma vez que Ele tivesse escolhido Abraão, Isaque e Jacó para trazer a salvação ao mundo, Ele teria que proteger seus descendentes das religiões e ideologias invejosas que surgiriam em cada geração buscando derrubá-los desse pedestal, para substituí-los e até mesmo para eliminá-los. Assim, o Senhor assumiu a responsabilidade de sempre proteger o povo judeu deste ataque espiritual – que inclui a ameaça do Hamas hoje. E se você me perguntar de que lado estou agora, estou do lado do Senhor enquanto Ele luta contra o espírito de Amaleque que leva o Hamas a atrocidades indescritíveis contra os judeus.

A Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém é um ministério fundado na constatação de que os cristãos das gerações passadas foram infectados pelo invejoso Espírito de Amaleque e cometeram grandes injustiças contra o povo judeu, e estamos aqui para ajudar a curar essas feridas. Pela graça de Deus, os nossos olhos foram abertos para ver que eles estavam errados, e agora abraçamos a eleição duradoura de Deus sobre Israel. Estamos totalmente seguros da nossa própria vocação, eleição e bênção em Cristo, e já não temos inveja dos Judeus.

Manifestção ‘Free Palestine’ (Palestina Livre) em Londres (AFP)

Isto demonstra que, à medida que o Espírito de Amaleque surge em cada geração, todos temos a escolha de concordar ou não com ele – incluindo árabes e muçulmanos. A triste verdade é que esta guerra atual foi iniciada porque muitos árabes e os seus governantes estavam finalmente aceitando o lugar legítimo do povo judeu nesta região. Eles estavam dizendo ‘não’ a esse espírito de inveja. Mas, por causa desta guerra, multidões de antissemitas estão agora marchando descaradamente nas cidades ocidentais, agitando orgulhosamente a bandeira palestina, o novo padrão da jihad global, e gritando “Palestina Livre” – que é agora um eufemismo para “Matem os Judeus!”

No entanto, as sondagens aqui em Israel mostram que a grande maioria do setor árabe acredita que o objetivo da atual operação do IDF em Gaza deveria ser eliminar ou desarmar o Hamas. Eles simplesmente não querem ver esta jihad cruel, semelhante ao ISIS, levada a cabo em nome da causa palestina.

E a vingança final contra Amaleque é que eles se arrependam, sirvam ao único Deus verdadeiro e respeitem Seu chamado irrevogável sobre Israel.

Crédito da foto principal: Homens armados do Hamas (JPost-Reuters)