Bella speaks to a large audience at the public event in Kuopio at Kuopio City Hall.
Por Susanna Rajala
Traduzido por Julia La Ferrera

O salão de seminários em Helsinque está em silêncio. O público escuta atentamente, enquanto alguns enxugam lágrimas dos olhos. Parece que até o relógio na parede parou por um momento para ouvir, enquanto a sobrevivente do Holocausto de 86 anos Bella Haim Rothstein compartilha suas memórias de infância angustiantes do Holocausto, bem como suas experiências recentes do massacre de 7 de outubro.

Bella atualmente mora na região de Eshkol, no sul de Israel, e participa de um grupo de sobreviventes do Holocausto. Este grupo se tornou uma rede de apoio vital para ela e muitos outros. Após o massacre de 7 de outubro, a Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém tem patrocinado o grupo, à medida que seus membros gradualmente retornam para casa após meses de evacuação.

O patrocínio garante que os sobreviventes tenham transporte para comparecer a eventos comunitários e cobre despesas em torno das reuniões do grupo. Essa assistência tem sido de grande valor para sobreviventes que suportaram os horrores do Holocausto e do ataque de 7 de outubro, com alguns até perdendo netos no ataque. O grupo de apoio fornece um espaço seguro com outros sobreviventes que entendem sua dor.

Recentemente, Bella viajou para a Finlândia para falar no escritório finlandês da ICEJ para o Dia Internacional da Memória do Holocausto, compartilhando suas experiências como sobrevivente tanto do Holocausto quanto do 7 de outubro. Ela também compareceu a vários outros eventos, visitou uma sinagoga em Helsinque e participou de um programa de rádio.

Infância à sombra do Holocausto

Bella Haim Rothstein nasceu em 1938 na vila de Stok, Polônia. Além dos pais, Bella era a mais nova de três irmãs. Na época, a Polônia tinha a maior comunidade judaica da Europa, e muitos deles acreditavam estar seguros no país.

Mas então tudo mudou. A Alemanha nazista invadiu a Polônia em setembro de 1939 e a guerra começou. “Fomos despojados de todos os nossos direitos e, de repente, tivemos que fugir”, Bella compartilhou. “Meu pai foi embora primeiro, mas mamãe ficou em casa comigo e minhas duas irmãs.” Eventualmente, a mãe de Bella também decidiu escapar, carregando a pequena Bella em seus braços e as duas filhas mais velhas a acompanhando em ambos os lados.

Mãe e filhos partiram em direção à cidade de Bialystok, no nordeste da Polônia, onde seu pai os esperava. A família se escondeu em Bialystok até que os alemães capturaram a cidade, forçando a família a escapar pela fronteira para a Rússia.

“Eu tinha quatro anos na época e estava começando a lembrar das coisas. Na Rússia, meus pais me colocaram em um orfanato para que eu pudesse comer lá. Eu não tive infância nenhuma”, disse Bella descrevendo seus anos difíceis durante a guerra.

Retornando para casa

A família ficou na Rússia durante toda a guerra, até que foi possível retornar à Polônia. “Os mesmos trens que levavam as pessoas para os campos de concentração agora transportavam as pessoas de volta para a Polônia”, Bella relembra.

Voltar para casa, no entanto, não foi fácil. “Havia muito antissemitismo. Era assustador sair à noite. Ficávamos em casa e trancávamos as portas. E, novamente, tínhamos que pensar para onde poderíamos escapar.”

Ao mesmo tempo, os sobreviventes da guerra estavam preocupados com seus parentes e outros sobreviventes.

“Meu pai tinha oito irmãos. Ele foi a Varsóvia para procurá-los e descobrir se algum deles estava vivo. Mas não sobrou ninguém, apenas meu pai e sua irmã sobreviveram.”

No entanto, a maior parte da família da mãe de Bella sobreviveu, pois eles já haviam fugido para o lado russo.

Depois da guerra, a família de Bella ficou na Polônia e na Alemanha. A essa altura, a família havia crescido, e agora havia seis filhos no total.

Uma nova vida em Israel

Uma mudança significativa na vida de Bella ocorreu em 1951, quando a família decidiu fazer Aliá para Israel, o estado judeu que havia sido estabelecido apenas alguns anos antes.

“Foi uma sensação boa, como um sonho se tornando realidade”, Bella descreve sua chegada em sua nova terra natal. “As pessoas vinham de barco e beijavam o chão quando pisavam em solo israelense.”

Aos 12 anos, Bella começou a escola e começou a estudar hebraico. Alguns anos depois, a família se estabeleceu no sul de Israel, no Kibbutz Gvulot, fundado por imigrantes judeus romenos e turcos.

“Eu me casei no kibutz aos 18 anos. Meu marido era um artista judeu búlgaro. Tivemos três filhos, e eu era muito feliz. Pela primeira vez, eu tinha um lar!”

Anos se passaram, e Bella aproveitou a vida comunitária e despreocupada do kibutz com sua família.

No entanto, em 1987, a família enfrentou grande tristeza quando a filha mais velha, Tal, adoeceu com câncer. Ela morreu antes de completar 30 anos, deixando para trás uma criança de três anos e meio.

“Aos 52 anos, voltei a ser ‘mãe’”, conta Bella, que, como avó, cuidou da pequena.

O massacre de 7 de outubro

“Eu achava que o mundo era um lugar lindo para se viver”, diz Bella, uma ativista pela paz de longa data que trabalhou para promover a coexistência pacífica de judeus e árabes no país.

“Eu lutei e trabalhei pela paz. De pé em frente a Gaza, muitas vezes me perguntei como poderíamos cooperar juntos. É por isso que era difícil para mim acreditar que um ataque como o de 7 de outubro pudesse acontecer.”

A vila natal de Bella, Kibbutz Gvulot, está localizada a apenas onze quilômetros da fronteira de Gaza. Foi uma das poucas vilas na região que os terroristas do Hamas não conseguiram invadir em 7 de outubro.

Embora ela tenha sobrevivido ao ataque, sua família foi tragicamente afetada pelos eventos.

“Minha família é uma família de músicos. Meu neto, Yotam, toca bateria e deveria tocar em um show em Tel Aviv naquele sábado. Mas então acordamos na manhã de sábado… Liguei para Yotam e ouvi que ele estava com problemas porque seu kibutz foi invadido por terroristas.”

Yotam vivia no Kibutz Kfar Aza, uma das vilas mais severamente destruídas naquele dia.

No início, a família não entendeu o que estava acontecendo até que fotos e vídeos do ataque começaram a inundar a internet e as mídias sociais. “Foi como o Holocausto”, Bella exclamou. “Pessoas que você pensava serem amigas, de repente se tornaram assassinas. Eles tiraram pessoas de suas casas, incluindo crianças. Eles queimaram casas, como durante o Holocausto. Eles levaram pessoas como reféns para Gaza em nossos carros.”

Notícias devastadoras

Uma semana após o ataque, a família soube que Yotam foi levado para Gaza. Ele estava vivo, mas era um refém, então era difícil sentir alegria.

Em um vídeo divulgado pelo Hamas, Bella viu como os terroristas sequestraram seu neto. “Dois terroristas estavam segurando Yotam pelos braços, e ele estava de pé entre eles, como Sansão da Bíblia. Por um momento pensei, se ao menos ele pudesse derrotar seus captores como Sansão.”

Por semanas, Bella se agarrou à esperança. “Todos os dias, músicos e cantores vinham à fronteira para cantar e orar, esperando que talvez ele e os outros reféns nos ouvissem”, ela diz.

A frágil esperança da sobrevivência de seu amado neto foi esmagada em 15 de dezembro de 2023, quando Bella soube que Yotam havia morrido em Gaza. Yotam e seus dois amigos conseguiram escapar de seus guardas e, por alguns dias, eles se mudaram de casa em casa em Gaza, buscando refúgio.

Ao mesmo tempo, soldados israelenses já estavam lutando na Faixa de Gaza. Conforme o trio se aproximava dos soldados, eles os confundiram com terroristas e atiraram neles.

“Yotam retornou a Israel, mas não vivo”, Bella continua com a voz trêmula. “Ele foi enterrado no Kibutz Gvulot, onde nasceu.”

Ninguém pode nos destruir

A perda do amado neto foi um choque imenso para a família, e especialmente para Bella, que já havia vivenciado a dor do Holocausto.

“Depois do Holocausto, jurei que nunca mais voltaria à Polônia ou à Alemanha”, ela disse. “Mas quando recebi um convite no ano passado para comparecer a um serviço memorial do Holocausto no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, decidi que dessa vez eu iria.”

“‘Am Israel Chai’ – ninguém pode nos destruir! Foi o que pensei enquanto caminhava, envolta na bandeira israelense e mantendo minha cabeça erguida em homenagem à memória do meu neto.”

A visita ao campo de concentração também foi particularmente significativa porque seu neto havia visitado o mesmo lugar com seu grupo escolar quando mais novo.

Precisamos aprender a amar

Depois de 7 de outubro, Bella foi evacuada de sua casa por um longo tempo, assim como outros moradores das comunidades perto da fronteira de Gaza. Agora, no entanto, ela retornou para sua amada casa no Kibbutz.

“Eu sou forte e continuarei sendo forte!” ela promete.

“Acredito que o mundo pode ser um lugar melhor se assumirmos a responsabilidade por ele. Devemos ensinar a todos sobre isso para que esse tipo de coisa não aconteça novamente. Devemos aprender a amar, não odiar”, diz Bella, enviando sua bênção e saudações a todos, esperando que todas as pessoas possam um dia viver juntas em harmonia.

Mostre seu apoio ao povo resiliente de Israel e ajude-nos a reconstruir as comunidades afetadas pelos ataques de 7 de outubro. Por favor, contribua para o nosso fundo Israel em Crise.

help.icej.org/crise

Foto principal: Bella discursa para um grande público no evento público em Kuopio, na Prefeitura de Kuopio.

Fotos cortesia do ICEJ Finlândia.