Prof Gabriel Barkay
Por David Parsons e Jonathan Parsons, Equipe ICEJ
Traduzido por Julia La Ferrera

O professor Gabriel Barkay é uma lenda viva no campo da Arqueologia Bíblica. Uma figura colorida, ele é considerado o maior especialista na história de Jerusalém. Ele estudou e ensinou arqueologia na Universidade de Tel Aviv e na Universidade Hebraica de Jerusalém. Mais notavelmente, Barkay é creditado com a descoberta das mais antigas inscrições hebraicas bíblicas já encontradas – dois amuletos de prata com a Bênção Aarônica de Números 6:24-26, datando da época do rei Ezequias. Conversamos com ele recentemente sobre esta e outras descobertas importantes na Terra desde o renascimento de Israel, 75 anos atrás. Aqui está uma transcrição da nossa entrevista.
ICEJ: Você nasceu na Europa Oriental durante a guerra, correto?

Prof Barkay: Nasci em uma época e lugar onde ninguém deveria nascer. Sou um produto do gueto, na cidade de Budapeste, capital da Hungria. E acho que entre mim e os campos de extermínio, há algo como uma semana ou algo assim. Devo minha vida ao exército russo, a ninguém mais que Joseph Stalin. Muitos outros devem sua morte a ele, eu devo minha vida a ele.

ICEJ: Quando você fez aliá?

Prof Barkay: Em 1950, quando eu tinha por volta de 6 anos de idade. Eu cresci em Jerusalém.

ICEJ: O que te interessou no campo da arqueologia?

Pof Barkay: Na minha infância, morei na área de Rehavia e vagava pelo Caminho da Cruz e vários outros lugares. Grande parte da atual Jerusalém ainda não era construída. E havia muitas áreas abertas. Colecionei todos os tipos de artefatos, moedas antigas e vasos de cerâmica e outras coisas. Eu me perguntei a quem isso poderia pertencer? Entendi que não sou o primeiro neste país e houve muitos outros antes de mim. Fiquei cada vez mais interessado. Obriguei meu pai a me comprar alguns livros. E foi assim que entrei na arqueologia na minha infância.

ICEJ: Você estudou em Tel Aviv?

Prof Barkay: Estudei na Universidade Hebraica de Jerusalém. Lá fiz meu bacharelado. Eu tenho meu PhD pela Universidade de Tel Aviv, onde também lecionei por 27 anos.

ICEJ: Eu entendo que seu doutorado foi uma pesquisa dos túmulos judaicos e costumes funerários, especialmente em Jerusalém?

Prof Barkay: Isso está correto. Eu estudei os subúrbios a noroeste de Jerusalém no final do período do primeiro templo. E um dos elementos que marcam a expansão da cidade são os cemitérios. Achei que o mapeamento dos cemitérios me mostraria os limites da expansão urbana da época. Você pode dizer isso porque o costume era enterrá-los fora da cidade habitada. Segundo as últimas fontes, deveria haver uma distância de 50 côvados, pelo menos, entre o primeiro túmulo e a última construção da cidade, pois os israelitas enterravam seus mortos fora dos assentamentos, ao contrário dos cananeus, que os enterravam dentro de seus assentamentos. E há outras características também. Localizei cerca de 150 cavernas funerárias ao redor de Jerusalém, que representam uma porcentagem muito pequena dos habitantes de Jerusalém. A maioria das pessoas foi simplesmente enterrada no solo e não deixaram nenhum vestígio. Mas as pessoas mais abastadas cavaram cavernas funerárias para si mesmas, e há certas características dessas cavernas funerárias que tipificam que elas pertencem ao período do Primeiro Templo e não a qualquer outro período. Então, localizei três cemitérios, um a leste da vila de Siloé, outro ao norte da cidade. Essa é a área do Portão de Damasco hoje. E o terceiro, ao longo de todo o vale de Hinom, desde aproximadamente a área de Mamilla até a junção do vale de Hinom com o vale de Cedrom, ao sul da cidade original de Davi.

ICEJ: Esta foi uma grande contribuição para o campo da arqueologia na época. Você tem essa reputação, bem merecida, que por causa dessa pesquisa e outras escavações, você é um dos maiores especialistas na história de Jerusalém e seu registro arqueológico…

Prof Barkay: Desde a minha infância, me interessei pela história e arqueologia de Jerusalém. É uma cidade fascinante, e nenhum outro lugar iguala a complexidade de sua história. Então, comecei a estudar a história da cidade no período do Segundo Templo, no período romano, no início do período cristão, no início do período árabe. Estou muito interessado nos restos arqueológicos dos cruzados em Jerusalém, nos restos dos mamelucos e até o estabelecimento da nova cidade em algum lugar no século 19 da Era Comum.

ICEJ: Em que outras escavações você já esteve envolvido ou conduziu fora de Jerusalém?

Prof Barkay: Estive envolvido por 15 anos nas escavações de Laquis, que ainda estão em andamento – a segunda cidade de importância depois de Jerusalém no Reino de Judá. Escavei em Megido, no norte, e em Tel Zeit, que fica na fronteira entre a Judéia e as terras dos filisteus. Participei também de uma escavação no Irã, em Sousa (Shushan), ligada à Rainha Ester. Isso foi em 1969. Fiquei lá por três meses.

ICEJ: E o que você encontrou lá?

Prof Barkay: Escavei principalmente restos árabes antigos. Mas é um local fascinante. E muito importante como um encontro muito, muito interessante com o povo iraniano. As paisagens iranianas. Um país tão maravilhoso, é uma pena que eles tenham um regime tão hostil. Juntos, eles são pessoas legais.

ICEJ: Quais foram alguns de seus achados ou descobertas importantes?

Prof Barkay: Nos últimos 15 anos, dirigi o Sifting Project (Projeto Peneiramento), peneirando o solo removido ilicitamente do Monte do Templo, que é o sítio arqueológico mais importante deste país. Estou especialmente orgulhoso de minha escavação no lado oeste de Jerusalém, em Katef Hinnom, próximo à Igreja Presbiteriana St. Andrews da Escócia. Lá, fiz nove temporadas de escavações. Tínhamos uma série de cavernas funerárias e uma importante igreja cristã primitiva. As cavernas funerárias são do século VII a.C., a época do profeta Jeremias e do rei Josias, cerca de 2.600 anos atrás. Na maioria dessas sete cavernas, sua parte superior foi extraída e saqueada na antiguidade. Em uma das cavernas funerárias, encontramos uma arquitetura muito interessante com prateleiras elevadas para enterrar corpos com apoios de cabeça escavados para os falecidos. Encontramos centenas de prateleiras funerárias neste repositório, o que é um achado único. Naquela câmara, eles recolheram os ossos e presentes de enterro de pessoas que foram enterradas nas prateleiras. Tínhamos mais de 1.000 objetos em uma câmara. Cerca de 125 deles eram feitos de prata, 360 vasos de cerâmica intactos e 140 contas feitas de pedras semipreciosas. Tínhamos objetos de vidro, objetos de marfim e até algumas peças de ouro. Entre as descobertas naquele repositório, tínhamos duas pequenas placas enroladas feitas de prata 99% pura. E depois de três anos de esforços, conseguimos desenrolar aqueles dois minúsculos pergaminhos e estavam densamente cobertos com a antiga escrita hebraica, que incluía em ambos os casos, a bênção sacerdotal do livro de Números do capítulo seis, versículos 24 a 26. E estes são os primeiros versículos bíblicos que possuímos hoje. Eles são do século VII a.C., cerca de 2.600 anos, pouco antes da destruição de Jerusalém pelos babilônios, antes do rei Josias. É da época em que o primeiro templo, o Templo de Salomão, ainda existia em Jerusalém. E aqueles dois pequenos pergaminhos eles mencionaram seis vezes o nome do SENHOR, que também foi a primeira palavra que consegui decifrar quando os vi pela primeira vez depois que foram desenrolados. O tetragrama do nome impronunciável de Deus, na Bíblia onde tem a palavra Senhor, que aparece como YHWH.

ICEJ: Isso é incrível! Então, essa era uma caverna que ninguém havia saqueado ainda, tinha muita coisa lá dentro?

Prof Barkay: Foi um caso interessante. Trabalhamos naquela temporada em 1979 com a ajuda de algumas crianças de um clube de arqueologia em Tel Aviv. Eram crianças de 12 a 13 anos, uma idade perigosa. Eles têm cérebro, mas não sabem como usá-lo. Entre aquelas crianças havia um menino que era do tipo resmungão. Ele costumava puxar minha camisa por trás. E quando eu me virava, ele me fazia perguntas bobas. De qualquer forma, para me livrar desse menino, coloquei-o naquele repositório. Depois que descobrimos o depósito, tive a impressão de que o local estava saqueado, que não havia nada nele. Eu vi algumas pedras no fundo e pensei: ‘Bem, isso é o chão.’ E então o chão foi limpo de todo o conteúdo do repositório. Deixei ele lá para limpar o local para a fotografia. E ele, no seu tédio, pegou um martelo e começou a bater nas pedras que eu achava que eram o chão. E ele começou a retirar objetos completos de baixo, o que ia contra todas as instruções que haviam recebido. Na verdade, eu vi minha camisa sendo puxada por trás e me virei e vi esse menino manuseando vasos de cerâmica intactos do período do Primeiro Templo. Então, eu perguntei a ele: ‘Onde você conseguiu isso?’ Ele não conseguia me dar uma resposta, e eu estava prestes a repreendê-lo ali mesmo. Ele fez a descoberta da minha vida. Minha, não dele! Esta é a inscrição hebraica mais antiga da Bíblia que já encontramos. E estes são os versículos bíblicos mais antigos que possuímos, em todo o mundo. Nada se compara a isso. Além disso, descobrimos na década de 1990, com métodos mais avançados de fotografia e programação de computadores, que existem mais alguns versos sobre eles. E um deles era um versículo do livro de Deuteronômio dizendo: ‘O grande Deus que mantém a aliança com Seus seguidores e guardadores de Seus mandamentos.’ Este versículo é do Livro de Deuteronômio. É muito interessante que nesta mesma gruta também tenhamos o Livro dos Números. Então, é mais um prego no caixão da teoria do Documentário, a alta crítica. Tem imenso significado para estudos bíblicos e vários outros campos. A bênção sacerdotal que aparece nesses dois objetos é, antes de tudo, muito bonita. A composição hebraica é muito poética. São 60 caracteres, 15 palavras dispostas em três bênçãos, uma de três palavras, outra de cinco e a próxima de sete palavras. A segunda palavra em cada uma dessas três bênçãos é o nome do SENHOR, e culmina na palavra ‘shalom’, que geralmente é traduzida como ‘paz’. Mas shalom no sentido bíblico significa total harmonia entre todos os componentes da Criação, total integridade e coexistência da Criação com o próprio Todo-Poderoso. Isto é tão bonito. E tem um significado também, para mim pessoalmente; é uma espécie de fechamento de um círculo. Porque na minha infância, na Hungria, antes dos cinco anos, lembro-me de meu pai voltando da sinagoga numa sexta-feira à noite, colocando as mãos na minha cabeça e proferindo essas mesmas palavras. Então, essas foram as primeiras palavras em hebraico que eu conhecia.

ICEJ: Quando esse menino trouxe esses vasos inteiros de cerâmica, e então você começou a trazer tudo para fora, ainda demorou um pouco para você perceber exatamente o que tinha nesses dois amuletos?

Prof Barkay: Em primeiro lugar, quando descobri que era um repositório intocado, todas as crianças foram mandadas para casa. Apresentamos um novo grupo de escavadores, estudantes de arqueologia da Universidade de Tel Aviv e um programa de estudos americanos em Jerusalém, e trabalhamos lá o tempo todo por cerca de uma semana. E um dia desses, um estudante americano que trabalhava dentro da caverna me chamou e me mostrou o primeiro pergaminho de prata no solo. Tive a sensação de que poderia ser importante, mas não sabia o quanto. Em todo caso, após a escavação, fizemos várias tentativas de desenrolá-lo. As tentativas não tiveram sucesso e danificaram o objeto. Então, parte dela está faltando hoje como resultado da tentativa malsucedida.

ICEJ: É uma folha de prata com as palavras hebraicas inscritas nela?

Prof Barkay: Tentamos amaciá-lo para desenrolá-lo e descobrimos que é o caminho errado. E, finalmente, os laboratórios do Museu de Israel conseguiram abri-lo, mas demorou três anos. E quando eles me chamaram ao laboratório do Museu de Israel, vi que as letras estavam muito delicadamente riscadas com um instrumento pontiagudo na prata. É muito interessante porque o Profeta Jeremias menciona que nos altares de metal, os pecados de Judá seriam escritos com uma pena de ferro e uma ponta de diamante. Assim, o risco de caracteres em metal era conhecido nesse mesmo período.

ICEJ: Você teve um desses momentos eureka, onde dançou por causa do que encontrou?

Prof Barkay: Tudo veio devagar. Trabalhei vários anos para decifrar as duas inscrições. Elas foram encontradas em 1979 e só finalmente foram publicadas em 1986. Mas depois tivemos a segunda rodada na década de 1990, usando novas técnicas de fotografia e programas de computador, quando descobrimos mais versos que não vimos da primeira vez.

ICEJ: Em algum momento você começou a usar a Bíblia como um guia ou uma ferramenta em sua pesquisa? Essa é a essência da Arqueologia Bíblica usando a Bíblia como guia, mas não necessariamente como prova.

Prof Barkay: A conexão entre a Bíblia e a teologia é um assunto bem conhecido no campo da arqueologia neste país. Na verdade, a Bíblia é a principal motivação das pessoas que vêm escavar na Terra Santa, e especialmente em Jerusalém. Mas com o passar dos anos desenvolveu-se entre os arqueólogos uma atitude mista em relação à Bíblia. Houve algumas pessoas desde a década de 1970 que negaram qualquer conexão possível entre a Bíblia e desafiaram e rejeitaram os relatos bíblicos como não-históricos. Por outro lado, havia outros que seguiam o relato bíblico sem nenhuma crítica, e achavam que era uma descrição precisa da história dos israelitas. A verdade é que o caminho do meio é o caminho certo; devemos usar a Bíblia e devemos usar a arqueologia, e sempre que couber – isso é muito bom. Um não anula o valor do outro. De qualquer forma, tenho uma visão mais conservadora do assunto. Acho que alguém que descobriu os primeiros versos bíblicos não pode negar o valor do termo ‘Arqueologia Bíblica’. Eu sinto uma conexão muito próxima com as pessoas que estiveram aqui e são descritas nas Sagradas Escrituras. Portanto, não tento provar a Bíblia e não acho que a Bíblia precise de nenhuma prova.

ICEJ: Então, isso aprofundou sua fé?

Prof Barkay: É forte o suficiente, não precisa da minha prova. Eu não acho que devo fortalecer a Bíblia, ou algo assim. Não creio que a Bíblia prove a arqueologia. Acho que a arqueologia aumenta nossa capacidade de entender melhor a Bíblia. E fornece também o quadro cronológico e os aspectos da vida cotidiana. Onde a Bíblia às vezes é omissa, acrescentamos mais informações sobre as pessoas que nos deixaram esta magnífica literatura.

ICEJ: Israel está se aproximando de seu 75º aniversário. E parece-me que a soberania judaica restaurada na Terra de Israel foi muito importante para desvendar a história desta terra, particularmente a história judaica. Quão importante tem sido para Israel governar a maior parte da terra para ajudar a redescobrir esta história? Algumas dessas coisas nunca foram encontradas?

Prof Barkay: Em primeiro lugar, você deve se lembrar que nos primeiros anos após o estabelecimento do Estado de Israel, a arqueologia era uma espécie de hobby nacional. O pai fundador do Estado de Israel, David Ben Gurion, costumava visitar as escavações. E uma das maiores figuras da arqueologia foi meu professor, Yigal Yadin, que foi o comandante da Guerra da Independência, e no Estado de Israel foi o segundo chefe do Estado-Maior do exército israelense, e também arqueólogo. Ele também foi uma figura pública importante, que mais tarde se tornou vice-primeiro-ministro.

ICEJ: O pai dele foi quem percebeu que os Manuscritos do Mar Morto eram importantes…

Prof Barkay: Sim, e o próprio Yadin era um estudioso dos Manuscritos do Mar Morto. De qualquer forma, durante anos, a arqueologia foi algo que ocupou um papel muito importante na vida pública. Descobertas arqueológicas eram avançadas na casa do presidente e apareciam nas primeiras páginas dos jornais diários. A arqueologia foi então considerada como uma das ferramentas para restabelecer o contato entre o passado e o presente na história judaica. Aquele entusiasmo dos anos 1950 e 60 não existe mais. E não temos correspondentes especiais para arqueologia nos jornais diários. Mas ainda assim, nossa ligação com a arqueologia, com a história deste país, ainda é muito, muito forte.

ICEJ: P: Quais são algumas das outras descobertas arqueológicas importantes dos últimos 75 anos?

Prof Barkay: Os Manuscritos do Mar Morto são a descoberta mais importante, uma coleção de cerca de 900 livros ou remanescentes da biblioteca de uma seita judaica que terminou no ano 68 EC. Eles foram provavelmente os essênios mencionados em fontes históricas, que estabeleceram um centro espiritual próximo ao Mar Morto. Temos na coleção obras do século III a.C. em diante. Esta é uma descoberta magnífica. Todos os livros da Bíblia, exceto o pergaminho de Ester, estão representados ali. Temos muitos livros apócrifos entre eles. Temos também algumas palavras sectárias, que são de extrema importância, principalmente o Pergaminho do Templo, que é um texto muito longo, muito bem preservado, nos contando sobre o futuro templo por vir, como eles o visualizaram. Sem dúvida, os Manuscritos do Mar Morto são a descoberta mais importante.

ICEJ: E a estela de Tel Dan? Quão importante é isso?

Prof Barkay: Na década de 1990, havia dúvidas se acumulando sobre a historicidade de Davi e Salomão, e a monarquia unida descrita na Bíblia, especialmente nos livros de Samuel e Primeiro Reis. A escola dinamarquesa ou de Copenhague negou a historicidade de Davi e Salomão e disse que essas figuras bíblicas nunca existiram. Havia muitos seguidores dessa escola na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e também aqui neste país. Agora, as décadas seguintes mostraram algo totalmente diferente. Em primeiro lugar, em 1993, em Tel Dan, no norte, um fragmento de uma estela de pedra que foi erguida pelo rei dos arameus, o rei Hazael, que conquistou Tel Dan, ele ergueu um monumento na portaria que ali estava despedaçado, e seus fragmentos foram incluídos nas pedras de construção de um portão posterior naquele local, com essa inscrição, escrita no século IX a.C., onde ele se gaba de ter matado muitos reis, entre eles o rei de Israel e o rei da ‘Casa de Davi’. Em suas primeiras reações, alguém da escola de Copenhague alegou que a inscrição era uma falsificação, o que não é apenas uma acusação muito cruel, mas também muito errada. Qualquer um pode vê-lo com seus próprios olhos em uma exposição. Além disso, um local no vale de Elah, perto de Beit Keyafa, foi escavado por pessoas da Universidade Hebraica. E lá eles descobriram que Davi não apenas existia, mas também construiu uma cidade na planície, no vale de Shephelah, e havia um reino de Davi não apenas mencionado 100 anos após sua vida na estela de Tel Dan, mas evidência nos restos físicos de locais construídos por ele. Assim, toda a negação da historicidade da monarquia unida desmoronou lentamente, inclusive com as muitas descobertas na Cidade de Davi original. Essa é outra história. Jerusalém é o centro da atividade arqueológica, especialmente desde a Guerra dos Seis Dias e a reunificação de Jerusalém. No coração do bairro judeu de Jerusalém, o falecido professor Avigad descobriu uma grande muralha da cidade, com cerca de oito metros de espessura e cerca de oito metros de altura. Uma muralha da cidade muito grande. E isso acabou com a ideia das pessoas que pensavam que a Jerusalém descrita na Bíblia era uma pequena cidade de vacas, limitada à estreita Cidade de Davi. Isso revolucionou o estudo do período do Primeiro Templo em Jerusalém, mas também o período do Segundo Templo de Jerusalém foi estudado de maneira intensiva por Benjamin Mazar, que estudou a vizinhança do Monte do Templo. Seu trabalho foi continuado mais tarde por sua neta, Eilat Mazar, em Shilo e muitas outras partes escavadas da Cidade Velha, no antigo núcleo da Cidade de Davi, bem como na Cidadela, na parte ocidental de Jerusalém. E ao todo, temos um retrato de Jerusalém ao longo de toda a sua história, desde muito antes do período do Primeiro Templo, e também depois do Segundo Templo.

ICEJ: Quais são algumas das descobertas importantes do Sifting Project (Projeto Peneiramento)?

Prof Barkay: Em primeiro lugar, temos cerca de meio milhão de achados, o que é incrível, porque o Monte do Templo é uma área que nunca foi escavada de forma sistemática. Houve outros no início do século 19, como Charles Warren, Charles Wilson, o alemão Conrad Schick e outros. Mas o Monte do Templo nunca foi escavado adequadamente por razões políticas. E o Monte do Templo é o coração, a alma e o espírito do povo judeu. O Muro das Lamentações não tem nenhum significado, é uma parede externa do Monte do Templo e obtém sua santidade, sua importância pelo que está por trás dele. Está encostado ao Monte do Templo, que é o local escolhido pelo Todo-Poderoso, segundo a tradição, onde começou a Criação. Este é o lugar de onde o barro da terra foi retirado para criar o primeiro homem, Adão, e este é o lugar onde Abraão tentou sacrificar seu filho Isaque a Deus. Este é o lugar do altar construído por Davi para acabar com a praga entre seu povo. Este é o lugar onde Salomão construiu seu Templo, e o Segundo Templo foi construído no mesmo local. De qualquer forma, o Monte do Templo é também o maior complexo religioso do mundo antigo. Ocupa 144.000 metros quadrados, o que representa 1/6 da área total da Cidade Velha. É um lugar enorme, muito maior que a Acrópole de Atenas ou qualquer outro lugar. Então, o que temos no Sifting Project (Projeto Peneiramento) são apenas pequenos achados, porque vem de terra e entulhos sem estruturas intactas ou elementos arquitetônicos neles. Eles têm apenas pequenos achados, mas esses pequenos achados são suficientes para nós. Por exemplo, para reconstruir os magníficos pisos da época da dinastia herodiana no Monte do Templo, temos cerca de 150 ladrilhos coloridos, que foram serrados em várias formas geométricas, e quando olhamos para as dimensões, eles seguem as frações do Pé romano. Sem dúvida, é uma equipe de artesãos enviada pelo imperador Augusto ao rei Herodes, o Grande, que executou esse trabalho no chão. O piso é feito com uma técnica especial que é italiana, ‘opus sectile’. São pedras lapidadas; estes são magníficos. Você tem nos escritos de Flávio Josefo, ele escreve que os pátios do Templo eram pavimentados com pedras coloridas, algo que também é mencionado nas memórias dos sábios talmúdicos sobre o Templo, e talvez até o Novo Testamento fale sobre as estruturas altas e as calçadas de pedra. Também temos entre os achados cerca de 30 bullahs, pequenos pedaços de argila para selar documentos. Um deles é de um sacerdote, Pasur, filho de Immer, que espancou e prendeu o profeta Jeremias. Ele provavelmente era o homem encarregado do Tesouro, no Monte do Templo. Então, temos achados significativos. Temos um grande número de mais de 7.000 moedas. Entre elas, temos a maior coleção de moedas dos cruzados já descoberta em um só lugar. E temos dois grandes medalhões de chumbo dos Cavaleiros Templários, que tinham seu quartel-general no Monte do Templo. Eles receberam o nome do Templo. Então, eu poderia passar as próximas semanas descrevendo todas as descobertas

ICEJ: Algumas dessas coisas estão em exibição no Museu de Israel e no Davidson Center?

Prof Barkay: Nenhum deles está em exibição ainda. Eles estão conosco. Em 2011, abrimos um laboratório para o estudo dessa imensa quantidade de achados. É aqui no bairro de Bakka e ainda estamos trabalhando nisso.

As que estão expostas no Sifting Project são todas réplicas, não as originais, pois ainda não temos proteção adequada.

ICEJ: Quão gratos os cristãos devem ser por Israel ter soberania aqui e ser capaz de encontrar toda essa herança bíblica?

Prof Barkay: Ouça, durante todos esses anos da minha infância e início da idade adulta, participei como soldado nas batalhas em Jerusalém. Sei apreciar a liberdade que temos agora em Jerusalém. Muitas pessoas não apreciam isso. Elas consideram isso como algo que existiu o tempo todo, eu não considero como tal. Acho que temos que valorizar mais. E acho que a descoberta de vestígios cristãos é de imensa importância. Eu mesmo escavei várias igrejas, e no solo do Monte do Templo que escavamos havia uma abundância de achados do período cristão primitivo, o que mudou nossa visão sobre a presença cristã no Monte do Templo, que é diferente do pensamento comum. Houve muita atividade no Monte do Templo durante o período cristão. Temos moedas, temos restos de mosaicos, temos minúsculos pingentes de cruz perdidos por peregrinos que vinham ao Monte do Templo. Temos cerâmica em abundância, tudo isso atestando o fato de que o Monte do Templo foi importante no período cristão inicial… E temos, por todo o país, evidências da importância deste país para os cristãos no passado. Pode-se seguir os passos de Jesus na Galileia, em Jerusalém e em outros lugares. Pode-se acompanhar o período cristão primitivo e outros períodos em que a Terra Santa foi importante para os cristãos, que estão muito bem representados no registro arqueológico.

ICEJ: Uma última pergunta: se você pudesse ter mais um projeto para escavar, qual seria?

Prof Barkay: O Monte do Templo.

ICEJ: E o que você esperaria encontrar lá em cima?

Prof Barkay: Todo arqueólogo tem sonhos. Mas os sonhos nem sempre se tornam realidade. Tudo o que se encontrar e contribuir para aumentar nosso conhecimento sobre o Templo de Salomão será muito bem-vindo. Infelizmente, há cerca de dois anos, contraí uma doença dos nervos que me impede de continuar a trabalhar no campo, pois mal consigo andar. Mas estou me recuperando e comecei a trabalhar em um livro sobre a cultura material, refletida no livro de cânticos e na Bíblia. Terminei esse livro há cerca de uma semana.

ICEJ: E você tem muitos talmidim (estudantes) que treinou e que continuarão o trabalho?

Prof Barkay: Sim, tive milhares de alunos ao longo dos anos. Ensinei por mais de 40 anos, incluindo muitos arqueólogos cristãos.

ICEJ: Obrigado pelo seu tempo.

Crédito das Fotos:

Prof. Gabriel Barkay – Wikimedia Commons

Pergaminho de Prata – Ardon Bar-Hama

Caverna Funerária em Ketek Hinnom – petergoeman.com