Batalhando Contra o Espírito de Amaleque!
Data: 14.3.2023Por Dr. Jürgen Bühler, Presidente da ICEJ
Traduzido por Priscilla Campos
O Festival de Purim, um dos feriados mais alegres em Israel, é baseado na história de Ester. Os eventos do livro ou “rolo” de Ester ocorreram durante o exílio judeu na Pérsia sob o rei Assuero (Xerxes / 486-465 aC). As raízes espirituais da história, no entanto, remontam ao tempo em que Saul reinou pela primeira vez como rei sobre Israel e ainda mais quando Moisés conduziu os israelitas para fora do Egito.
Nos dias de Saul, ele foi desafiado a provar que era o líder de Israel na batalha contra seus piores inimigos, os amalequitas, e assim estabelecer seu reinado sobre Israel. Saul era da tribo de Benjamim e sua família era dos Quisitas (filhos de Quis), uma comunidade pouco conhecida na época. O profeta Samuel declarou que chegara a hora de estabelecer seu governo (1 Samuel 15:1), mas exigia obediência estrita. Saul foi ordenado a se envolver em uma batalha de grande significado histórico e espiritual para Israel, desferindo um golpe final em seu antigo arquiinimigo – os Amalequitas.
Durante a época do Êxodo, esta tribo do deserto atacou os filhos de Israel na saída do Egito e o fizeram da maneira mais desprezível. “Lembra-te do que Amaleque te fez no caminho, quando saíste do Egito, como te atacou no caminho, quando estavas cansado e afadigado, e derrubou-te na retaguarda, os que te retardavam, e não temeu a Deus.” (Deuteronômio 25:17-18) Amaleque era ‘viscoso’ (difícil de se livrar), atacando os fracos e cansados na retaguarda das fileiras. Desde então, esse povo se tornou o arquétipo da inimizade para Israel, com até mesmo Deus declarando: “O SENHOR fará guerra contra Amaleque de geração em geração.” (Êxodo 17:16)
O livro de Primeiro Samuel nos diz que Saul prontamente enfrentou o inimigo, mas não terminou a missão de todo o coração. Ele guardou para si o melhor das ovelhas e, pior ainda, poupou Agague, rei dos Amalequitas. Foi Samuel quem executou Agague pela morte de muitos em Israel. E por causa da indecisão e desobediência de Saul nesta batalha, a realeza sobre Israel foi finalmente removida da Casa de Quis e entregue à Casa de David.
E, em um sentido real, a rivalidade persistente entre a Casa de Quis e a Casa de Agague é então repetida na história de Ester mais de 600 anos depois.
Segundo Round
Além de Ester, o outro personagem judeu principal na história é descrito da seguinte forma: “Ora, havia um judeu em Susã, a cidadela, cujo nome era Mordecai, filho de Jair, filho de Simei, filho de Quis, um benjaminita.” (Ester 2:5) Mordecai era do clã real deposto de Saul (ver 1 Samuel 9:1; 2 Samuel 16:5). Ele também serviu no portão de Susã, o que significa que ele era um oficial de alto escalão na Persia. Finalmente, ele foi o pai adotivo de Ester, uma jovem órfã e parente de Mordecai.
As circunstâncias divinas repentinamente impulsionaram Ester ao trono da Pérsia, quando ela se tornou a esposa do governante Assuero. Foi realmente um conto de fadas de uma bela refugiada judia se tornando rainha de um império que governava o mundo.
Como seus ancestrais amalequitas, Hamã manifestou um antigo ódio demoníaco pelos judeus. Ele buscou vingança, e matar Mordecai não foi suficiente. Em vez disso, ele planejou destruir todos os judeus do Império Persa. Hamã foi ao rei com um pedido que é um dos primeiros casos registrados de antissemitismo:
“Existe espalhado e dividido entre os povos em todas as províncias do teu reino um povo, cujas leis são diferentes das leis de todos os povos, e que não cumpre as leis do rei; por isso não convém ao rei deixá-lo ficar. Se for do agrado do rei, seja decretado que sejam destruídos, e eu darei 10.000 talentos de prata nas mãos daqueles que estão encarregados dos negócios do rei…” (Ester 3:8)
Para Hamã, isso não era apenas uma quebra de protocolo do tribunal, mas um assunto pessoal que valia a pena investir sua própria riqueza. Ele viu isso como o momento em que o conflito entre Israel e Amaleque poderia entrar em seu capítulo final – a aniquilação total do povo judeu. Tragicamente, o rei aprovou a conspiração. Apenas uma outra vez na história um decreto semelhante foi aprovado, e isso foi em 1942, quando altos funcionários nazistas, sob as direções de Hitler, se reuniram na Vila Wannsee, nos arredores de Berlim, e planejaram aniquilar os onze milhões de judeus da Europa.
Ao contrário do destino dos judeus europeus, quando seis milhões de judeus foram brutalmente assassinados pela Alemanha nazista, o livro de Ester se transformou em uma história de libertação milagrosa.
Um Dia de Libertação
Quando os judeus da Pérsia souberam da conspiração para matá-los, eles imediatamente convocaram um jejum nacional entre todos os judeus que viviam na Pérsia. Mordecai podia ver a mão de Deus com sua prima Ester sendo agora a rainha do império. Ele então fez um apelo dramático a Ester, de que agora era a hora de agir (Ester 4:13):
“Não pense consigo mesmo que no palácio do rei você escapará mais do que todos os outros judeus. Pois, se você se calar neste momento, alívio e libertação surgirão de outro lugar para os judeus, mas você e a casa de seu pai perecerão. E quem sabe se você não veio ao reino para um momento como este?”
Mordecai a desafiou com uma declaração que pessoalmente tocou meu coração anos atrás quando a li: Ele disse que a sobrevivência dos judeus não depende dela; se ela permanecesse em silêncio, alguém se levantaria e os libertaria. Que poderosa profissão de fé!
Mordecai entendeu que nem Hamã nem ninguém poderia frustrar os propósitos de Deus com Israel. Ele sabia que o destino de Israel não havia terminado, mas que Deus havia prometido trazê-los de volta à sua terra e até mesmo enviar-lhes o Messias. Então, se Ester permanecesse em silêncio, outro libertador surgiria para salvar o povo de Deus. “Mas”, acrescentou ele, “você e a casa de seu pai perecerão.”.
Não sabemos ao certo, mas talvez Mordecai tenha visto isso como uma oportunidade de redimir a indiferença de seu ancestral Saul. De qualquer forma, ele tinha certeza de que o silêncio de Ester teria consequências catastróficas para ela e sua “casa paterna”.
Para colocar isso em um contexto moderno, vemos forças surgindo hoje que também buscam com determinação maligna a ruína do povo judeu. Eles querem prejudicar os judeus e enfraquecer ou destruir a nação de Israel.
Vemos isso nas Nações Unidas, onde Israel – a única democracia em funcionamento na região – é irracionalmente apontado todos os anos para condenação, enquanto os piores tiranos deste mundo são tratados como inocentes. Também vimos isso há apenas algumas semanas no Tribunal Penal Internacional em Haia, onde Israel está sendo injustamente investigado por supostos crimes de guerra, enquanto outras nações massacrando seu próprio povo recebem rotineiramente um passe livre.
De fato, o espírito de Amaleque está guerreando contra Israel mesmo em nossa geração. E aqui somos chamados à ação. Isso traz à mente as palavras de Martin Niemöller, um pastor da igreja confessante durante o tempo de Hitler, que afirmou:
“Primeiro eles vieram buscar os comunistas e eu não me manifestei porque não era comunista. Então eles vieram atrás dos socialistas e eu não me manifestei porque não era socialista. Depois vieram buscar os sindicalistas e eu não me manifestei porque não era sindicalista. Então eles vieram atrás de mim e não sobrou ninguém para falar por mim.”
Embora ele infelizmente tenha evitado mencionar os judeus, que precisavam de intervenção mais do que qualquer outra pessoa, devemos levar essas palavras a sério e estar prontos para falar diante da injustiça e, em particular, em relação ao povo escolhido de Deus – os judeus. A advertência que Mordecai fez a Ester já foi dada a Abraão, o primeiro judeu: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem!” (Gênesis 12:3)
Ao celebrarmos Purim, vamos renovar nosso compromisso de permanecer, sem nos envergonharmos, com o povo de Deus. Deus vê isso e nos abençoará.
A história de Ester é uma reversão total. Em Ester 9:1 diz: “… no mesmo dia em que os inimigos dos judeus esperavam dominá-los, ocorreu o inverso: os judeus ganharam domínio sobre aqueles que os odiavam.”
Como o rei reverteu a situação para os judeus, ele permitiu e os encorajou a se defenderem e o próprio dia designado para sua destruição tornou-se um dia de grande vitória e libertação. Não apenas Hamã e seus dez filhos foram enforcados na própria forca que ele construiu para Mordecai, mas também centenas de “inimigos dos judeus” caíram com ele.
Nosso Dever de Agir
Ironicamente, quando os julgamentos de Nuremberg terminaram em outubro de 1946 e dez dos altos oficiais nazistas foram enforcados; um jornalista americano ouviu um deles – Julius Streicher – gritar em suas últimas palavras: “festa de Purim!
A história tende a se repetir, mas cabe a nós fazer tudo o que pudermos para garantir que isso não aconteça durante a nossa vida.
Não devemos ignorar que Amaleque representa um espírito que operou ao longo da história. Tanto Moisés em Êxodo 17 quanto Mordecai no pergaminho de Ester entenderam que a oração e o jejum eram ferramentas necessárias para combater esse espírito maligno do antissemitismo. No entanto, também precisamos ser um povo de ação e mostrar visivelmente de que lado estamos.
Que Deus nos abençoe ao fazê-lo!