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A Páscoa como Guia Profético
Data: 20.1.2025Por David R. Parsons, Vice-Presidente Sênior & Porta-Voz
Traduzido por Julia La Ferrera
Enquanto aguardamos a observância da Páscoa nesta primavera, é esclarecedor e reconfortante refletir não apenas sobre a poderosa libertação dos israelitas do Egito por Deus há cerca de 3.500 anos, mas também sobre o grande significado profético deste evento histórico. A maioria dos cristãos está familiarizada com a forma como a primeira Páscoa lançou uma longa sombra para a primeira vinda de Jesus e sua obra redentora na cruz. Mas, de acordo com os profetas hebreus e também com o Novo Testamento, a história do Êxodo também serve como um guia profético para o fim dos tempos e sua Segunda Vinda.
Jesus, nosso cordeiro pascal
Há muito que poderia ser dito sobre os paralelos entre a festa judaica da Páscoa e a celebração cristã da Páscoa, ou o que prefiro chamar de “Domingo da Ressurreição”.
Em termos mais básicos, a libertação física de Israel da escravidão no Egito foi um prenúncio da libertação espiritual que temos em Cristo, cuja morte expiatória nos libertou da escravidão do pecado (Romanos 6:17-18; Gálatas 5:1; Colossenses 1:13-14). Assim como Deus poupou os israelitas do “destruidor” quando viu o sangue de um cordeiro aspergido em seus umbrais, o sangue derramado de Jesus, o Messias, permite que Deus “passe por cima” de nossos pecados completamente (Romanos 3:25; 1 Coríntios 5:7).
A figura central da história da Páscoa é Moisés, que foi o Libertador prometido de antemão por Deus para libertar os hebreus da escravidão no Egito (Gênesis 15:13-14). Da mesma forma, Yeshua (Jesus) foi um Libertador prometido antecipado por seu povo (Daniel 9:24-26; Miquéias 5:2; Mateus 1:21, 2:4-6; Gálatas 4:4).
De fato, os muitos paralelos entre Moisés e Jesus são bastante notáveis, incluindo o fato de que ambos sofreriam rejeição por seu próprio povo (Números 14:22; Deuteronômio 18:15; Atos 3:14-18, 7:38-39).
A Última Ceia que Jesus realizou com seus discípulos foi, sem dúvida, modelada em uma refeição de sêder de Páscoa. Quando Jesus chegou ao tradicional terceiro cálice de vinho em Pêssach – o cálice da redenção – ele declarou: “Este cálice é a nova aliança no Meu sangue derramado em favor de vós.” (Êxodo 6:6; Lucas 22:20)
Assim como a matzá (pão sem fermento) assado na Páscoa tem pequenos furos e listras, o corpo de Jesus foi perfurado por nossas transgressões e suas costas receberam pisaduras para nossa cura (Salmo 22:16; Isaías 53:5; Mateus 27:26; João 19:31-37).
E assim como Israel foi ordenado a observar a refeição da Páscoa todos os anos em memória do Êxodo do Egito, Jesus disse aos seus discípulos para participarem continuamente do pão e do vinho da Última Ceia em memória do que Ele estava prestes a sofrer por eles (1 Coríntios 11:25).
Outros detalhes nos Evangelhos demonstram claramente o quão próximo Jesus se assemelhava ao cordeiro sacrificial da tradição da Páscoa. Ele foi examinado minuciosamente por falhas pelos sacerdotes judeus e até mesmo pelas autoridades romanas. Ele morreu em uma cruz bem quando os últimos cordeiros da Páscoa estavam sendo abatidos nos pátios do Templo. Nenhum de seus ossos foi quebrado (Êxodo 12:9; Salmo 34:20; João 19:33-36).
Então descobrimos que grandes propósitos proféticos e redentores que estavam ocultos na experiência original da Páscoa foram abertamente cumpridos durante aquela fatídica Páscoa na primeira vinda de Jesus, há cerca de 2.000 anos. Mas como a história do Êxodo se relaciona com sua Segunda Vinda?
O Êxodo como analogia do fim dos tempos
Curiosamente, a Bíblia também traça uma analogia clara entre a saída dos israelitas do Egito e as relações de Deus com Israel e as nações gentias no fim dos tempos. Por exemplo, Jeremias disse que o retorno de Israel nos últimos dias espelhará o Êxodo e até mesmo o excederá em magnitude.
“Portanto, eis que vêm dias, diz o Senhor, em que nunca mais se dirá: Tão certo como vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel do Egito; mas: Tão certo como vive o Senhor, que fez subir os filhos de Israel da terra do Norte e de todas as terras para onde os tinha lançado. Pois eu os farei voltar para a sua terra, que dei a seus pais.” (Jeremias 16:14-15)
Este mesmo paralelo é encontrado novamente em Jeremias 23:7-8, onde o contexto mais uma vez é a reunião final do povo judeu em sua antiga terra natal. Aqui, há o elemento adicional de que o prometido “Renovo”, ou Messias, entrará em cena neste momento para reinar gloriosamente, de modo que “Judá será salvo, e Israel habitará em segurança…” (Jeremias 23:5-6).
Zacarias capítulo dez traz uma mensagem semelhante, até mesmo adotando imagens claras da abertura do Mar Vermelho para descrever este tempo futuro quando os judeus partiriam das nações gentias e viajariam para casa na Terra de Israel: “Passarão o mar de angústia, as ondas do mar serão feridas, e todas as profundezas do Nilo se secarão […]” (Zacarias 10:11)
Em outro lugar, o profeta Miquéias prevê um tempo em que Israel será finalmente restaurado à sua terra e ao seu Deus, mesmo enquanto Ele está lidando com as nações em um cenário semelhante ao do Êxodo, dizendo: “Eu lhe mostrarei maravilhas, como nos dias da tua saída da terra do Egito.” (Miquéias 7:15) O profeta também vê o Senhor “passando por cima” das transgressões do remanescente de Seu povo – empregando a mesma palavra hebraica abar usada em Êxodo 12:23 para descrever como o Senhor “passaria” pela terra para atacar os egípcios na noite da Páscoa.
Agora, ao longo do último século ou mais, testemunhamos o incrível retorno do povo judeu das muitas terras de sua dispersão e cativeiro, assim como o povo hebreu foi libertado para deixar o Egito e partir para a Terra Prometida. Mas ainda temos que ver a poderosa mão de Deus verdadeiramente humilhando as nações por maltratarem duramente o povo de Israel, como Ele fez com o Faraó e seu exército na travessia do Mar Vermelho. No entanto, esse dia certamente está chegando.
Considere que muitos dos julgamentos preditos em Apocalipse são muito semelhantes às pragas que atingiram o Egito. Das dez pragas descritas no livro de Êxodo, cinco também são encontradas em Apocalipse. Isso inclui granizo misturado com fogo (Apocalipse 8:7); os mares e rios transformados em sangue (8:8, 16:3-4); gafanhotos (9:1-11); feridas repugnantes como furúnculos (16:2); e escuridão (16:10-11).
Além disso, as Duas Testemunhas que aparecem em Apocalipse 11 têm poderes muito semelhantes aos de Moisés (e Elias) para invocar fogo do céu, parar as chuvas, transformar água em sangue e “ferir a terra com todas as pragas, quantas vezes desejarem”. (Apocalipse 11:5-6) Uma escola de pensamento sustenta que – assim como Moisés invocou todas as pragas sobre o Egito no meio da corte do Faraó – essas duas figuras ungidas estarão em Jerusalém invocando todos os julgamentos que ocorrerão ao longo do período de três anos e meio descrito em Apocalipse capítulos seis a nove. Essa visão é apoiada pelo versículo 10, que afirma que o mundo inteiro se alegrará com a morte deles, porque “esses dois profetas atormentaram os que habitam na terra”.
O julgamento de Deus sobre as nações nos últimos dias é frequentemente descrito pelos profetas hebreus como culminando em Jerusalém, como em Joel 3:1-3. É como se as nações tivessem liberado o povo judeu para voltar para casa, mas depois tivessem dúvidas e os perseguissem lá, como o Faraó fez antigamente. O profeta Zacarias, no capítulo 14, também fala daquele dia em que Deus reunirá todas as nações em Jerusalém para julgamento. Embora a cidade veja grande destruição, o próprio Senhor aparecerá em cena e “pelejará contra essas nações, como pelejou no dia da batalha.”. (Zacarias 14:3)
O profeta então descreve o Senhor em pé com Seus pés no Monte das Oliveiras, que milagrosamente se divide ao meio para abrir um caminho de escape para o povo de Israel (Zacarias 14:4-5). Este evento profetizado tem uma semelhança tão estranha com a abertura do Mar Vermelho que devemos concluir que é mais um exemplo na Bíblia da analogia do Êxodo conectada ao Fim dos Dias.
Uma coisa é as águas se separarem para permitir que um povo fuja e depois se juntarem novamente para afogar o inimigo que o persegue. Quão maior maravilha de se ver será a separação de uma montanha para libertar Seu povo, bem quando as nações estão se aproximando de Jerusalém! De fato, o Êxodo moderno está longe de terminar e seu fim será mais impressionante do que o primeiro Êxodo há muito tempo; sim, mais impressionante do que podemos imaginar.
Verdadeiramente, “o Senhor vive!” O mesmo Senhor que morreu na cruz na Páscoa para que pudéssemos viver com Ele para sempre.
David R. Parsons é um advogado, autor, jornalista e ministro ordenado que atua como vice-presidente sênior e porta-voz da Embaixada Cristã Internacional em Jerusalém. www.icej.org
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